É o que acontece agora
na Espanha. A presidente foi até Cádiz para a 22ª Cúpula Ibero-Americana neste
fim de semana e emendará o programa com um seminário sobre economia brasileira
promovido pelo jornal El País. O principal
tema de seus discursos tem sido a crítica à austeridade que, segundo ela, é a
receita para o abismo que os governantes europeus adotaram para tirar o
continente da crise.
Se conhecessem bem o
que está se passando no Brasil, seus ouvintes não dariam um vintém pelas
palavras da presidente brasileira. Dilma dá aulas de gestão da economia como
quem pilota um país em franca decolagem, mas governa uma nação em processo de
aterrisagem. O Brasil dos discursos dela só existe na propaganda oficial.
Dilma fala que o
incentivo aos investimentos e o apoio ao ímpeto empreendedor privado são as
chaves para o desenvolvimento. Mas promove, neste momento, o oposto disso no
país. O governo petista não executa os projetos públicos e, para piorar, destroça as
condições para que os investimentos privados aconteçam. Não se vê perspectiva
de melhora.
A presidente também costuma
dizer, como fez novamente no sábado em Cádiz,
que a austeridade no controle das contas públicas não é a melhor forma de
conduzir países em crise. Poderia aproveitar e esclarecer qual a visão dela sobre
o assunto no Brasil. Afinal, aqui seu governo pratica uma política econômica que
implode as condições que levaram o país a altas taxas de crescimento em passado
recente.
Do antigo tripé herdado
do governo Fernando Henrique, e que deu estabilidade e suporte a ações da
gestão Lula, pouco resta em pé agora. Não há mais comprometimento estrito com a
geração de superávits fiscais para reduzir o endividamento do Estado e gerar
espaço para o investimento: neste ano, nem com toda a criatividade contábil do
mundo, a meta será atingida.
Também não há
compromisso firme com as metas de inflação, sistematicamente acima do alvo. Ao contrário,
a política monetária do governo Dilma passou a mirar uma meta de juros e manipula
toda a sorte de preços – como os dos combustíveis e agora também os da energia elétrica
– para evitar um descontrole maior. Tampouco temos um sistema de câmbio realmente
flutuante.
Mas o país que Dilma
vende a seus interlocutores estrangeiros não difere da realidade apenas nos
fundamentos da economia. A presidente também distorce os fatos quando reconta
a história recente do país: “Poucos governos fizeram tanto pelo controle dos
gastos públicos, como o do presidente Lula”, disse ela em entrevista publicada
na edição de ontem do jornal espanhol El País. Em que mundo viverá a presidente?
Talvez ela não
habite a Esplanada dos Ministérios em que hoje exista praticamente o dobro de
pastas do que havia dez anos atrás; onde o contingente de servidores cresceu
mais de 21%, incorporando mais de 170 mil novos funcionários; e em que os
gastos com salários subiram 33% acima da inflação, como mostrou O Globo no domingo.
Para completar, Dilma
preside uma economia que neste ano terá apenas a segunda menor taxa de
crescimento da América Latina, superando somente o Paraguai, país que hoje mal tem
governo. Não são as credenciais mais vistosas para quem pretende ditar regras para
países em crise...
Seria muito bom se o
Brasil que Dilma Rousseff apresenta aos estrangeiros existisse de verdade. Mas a
realidade teima em desmenti-la. Com base numa experiência de governo que em
dois anos não fez nem deixou que se fizesse, a presidente brasileira ainda tem
muito a aprender com o Velho Continente e com os países desenvolvidos. Só quem não
a conhece a compra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário