Nos primórdios do mensalão,
José Dirceu era presidente do PT e, já no governo, assumiu a chefia da Casa
Civil. Era, em síntese, o “capitão do time”, nas palavras do próprio presidente
da República. Se não tivesse sido apanhado montando e comandando o maior
esquema de corrupção da nossa história política, provavelmente teria sido a
opção dos petistas para suceder Lula na presidência do país.
Dirceu é, agora, um condenado
da Justiça, com pena de dez anos e dez meses de cadeia pela prática dos crimes
de corrupção ativa e formação de quadrilha. Pelo menos um ano, nove meses e 20
dias ele terá que gramar atrás das grades, provavelmente num presídio de
segurança máxima em São Paulo. Também será banido da vida política brasileira,
inelegível até 2031, quando terá completado 85 anos.
José Genoino também
colecionara todos os cargos de relevo na direção partidária petista. Depois de
liderar o partido na oposição, assumira a presidência do PT em sucessão a
Dirceu, já com a estrutura do mensalão azeitada e operante. Cuidou de assinar contratos
de empréstimos fictícios que compuseram a farsa montada para dar ares de legalidade
a parte dos R$ 78 milhões já comprovadamente desviados dos cofres públicos.
Genoino também é,
desde ontem, um condenado pela Justiça a seis anos e 11 meses de prisão pela
prática dos mesmos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. Terá,
porém, melhor sorte que Dirceu, podendo cumprir a pena definida pelo Supremo em
regime semiaberto, ou seja, terá apenas que passar as noites na cadeia.
Já Delúbio Soares
era o responsável por movimentar a dinheirama que lubrificou a relação do PT
com seus aliados e pavimentou a conquista do poder pelo partido em 2002. Com Lula
na cadeira presidencial, tinha livre trânsito no Palácio do Planalto e andava despreocupadamente
por aí com malas de dinheiro, talvez por acreditar que tudo jamais passaria de “piada
de salão”.
O tesoureiro do
mensalão pegou oito anos e 11 meses de cadeia, a serem cumpridos, assim como a
pena de José Dirceu, também em regime fechado pelos mesmos crimes de formação
de quadrilha e corrupção ativa. Na prisão, provavelmente terá regalias distintas
daquelas do capitão do time e nenhum motivo para rir de nada.
Dirceu, Genoino, Delúbio
e mais 22 réus do mensalão estão indo para a cadeia por comandar um esquema que
desviou dinheiro público para corromper parlamentares, comprar voto no
Congresso, subjugar um poder da República (o Legislativo) a outro (o Executivo)
e, assim, perpetrar um ataque ao Estado Democrático de Direito. Terão um bom
tempo de xilindró para se arrepender do que fizeram.
Com a decisão dos
ministros do Supremo, a democracia brasileira começou a se defender de tanto
acinte, de reiterados desrespeitos, de insidiosas investidas, que também se manifestam
por meio da nefasta ocupação e instrumentalização do aparelho estatal por parte
do PT e seus aliados.
“[Os condenados] estavam
juntos a serviço de algo maior: de uma política de governo que usa agentes
políticos, banqueiros, empresários, publicitários. De uma política de governo
que usa o público e o privado, a lei, o contrato e os partidos políticos para
ameaçar a democracia”, escreve Joaquim Falcão, professor da FGV, na Folha
de S.Paulo. A tudo isso, o país, na figura do Supremo Tribunal Federal,
dá agora um basta.
Não é do dia para
noite que a corrupção será banida do país. Mas o julgamento do mensalão é
certamente um passo definitivo nesta direção. Não devemos, porém, nos iludir: assim
como outros notórios corruptos se transmutaram e renasceram sob as bênçãos do
PT, os petistas estarão sempre tentando reescrever a história, para que o que há
de pior na política continue a prevalecer. Irão defrontar-se, cada vez mais, com
a resistência da oposição.
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