O PT não consegue
entregar obras que promete, mas pode se vangloriar de ter levado a cabo um dos
primeiros compromissos vocalizados por Luiz Inácio Lula da Silva quando chegou ao
Palácio do Planalto: pôr fim à autonomia das agências reguladoras. Passados dez
anos, a missão foi cumprida com retumbante sucesso.
A revelação de que
apaniguados de Lula e José Dirceu usavam seus cargos na direção de agências
como a ANA (de águas) e a Anac (de aviação civil) para traficar pareceres
encomendados por empresas, feita pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal,
é a cereja do bolo. Não sobrou pedra sobre pedra nos órgãos de regulação do país.
Os irmãos Paulo Rodrigues
Vieira, que navegara pela Antaq e estava na ANA, e Rubens Vieira, que levantava
voo na Anac, agiam sob a proteção do gabinete presidencial em São Paulo. Até
ontem, lá estava instalada Rosemary Nóvoa Noronha, fiel escudeira de Lula – com
quem trocou 122 telefonemas entre março de 2011 e outubro deste ano, segundo
reportagem publicada ontem pelo jornal Metro
– e Dirceu – cuja teia de interesses também alcança negócios ora investigados pela
PF, como revela O
Globo hoje.
No mundo oficial, os
irmãos Vieira eram conhecidos como “bebês de Rosemary”, mas, pelo que
personificam da destruição das agências e da dilapidação do patrimônio público, deveriam ser chamados mesmo é de “bebês
de Lula”. Tal como Paulo e Rubens, os órgãos reguladores do país estão cheios
de filhotes do ex-presidente.
Eles simplesmente
tocaram o terror na estrutura institucional criada no governo tucano para defender
os direitos dos consumidores, limitar o apetite dos novos operadores privados e
impedir que a elefantíase do Estado se manifestasse. Sob o petismo, as agências
se converteram em órgãos de captura de um partido sobre o bem público.
São muitos os
exemplos de enfraquecimento das agências reguladoras. Começam pela Anac, que em
2007 mergulhou o país no caos aéreo do qual até hoje não conseguimos decolar. Passam
pela ANP, que vem assistindo o país afundar na expansão da exploração de
petróleo, vergado pelo malfadado novo marco regulatório. Incluem a Aneel,
avalista do salto no escuro que a gestão Dilma Rousseff promove no setor
elétrico, e a Anatel, que, na maior parte do tempo, assiste muda as operadoras
de telefonia lesarem seus clientes.
Também nas outras
seis agências existentes acontecem movimentos suspeitos e episódios escabrosos.
É o caso, por exemplo, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Lá está
sob análise um dos maiores negócios feitos no país nos últimos tempos: a compra
da maior operadora de planos de saúde do país, a Amil, por um grupo americano,
a UnitedHealth Group.
Trata-se de operação
da ordem de R$ 10 bilhões, a maior já ocorrida no setor de saúde privada. Ocorre
que tamanho negócio obteve aval da ANS em tempo recorde, para dizer o mínimo:
em 13 dias estava tudo aprovado, apesar de toda a complexidade, mostrou a Folha
no domingo. Na média, as análises por lá têm consumido 90 dias, além do que
há operações que aguardam há mais de seis meses para ser apreciadas pelos diretores.
Também a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária está envolta em suspeitas de irregularidades,
que viriam desde 2008. Há uma farra de aprovações irregulares de agrotóxicos,
que sequer têm sido submetidos a testes de avaliação de danos à saúde. Imagine-se
a qualidade dos alimentos que, com a leniência dos petistas, estão chegando à
mesa dos brasileiros...
Desde que assumiu o
governo, Dilma Rousseff vem prometendo limpar as agências da herança maldita
legada por Lula. Passados dois anos, ainda não se viu, porém, qualquer avanço que
possa ser considerado notável nesta área. Pelo contrário: os malfeitos só se repetem
e acumulam. Se continuar assim, os bebês de Lula soltos por aí ainda vão fazer muita
lambança e diabruras.
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