O relatório final da
CPI, apresentado pelo petista Odair Cunha, é um escárnio do começo ao fim. Indicia
pessoas que sequer foram ouvidas ao longo dos trabalhos da comissão, ignora
políticos aliados cujos laços com negócios espúrios são evidentes e passa ao
largo de uma investigação mais séria sobre os dutos que drenaram recursos
públicos para campanhas eleitorais de petistas e aliados por meio da empresa
Delta.
O relator pede
indiciamento de 46 pessoas, com destaque para cinco jornalistas, entre eles o
diretor da revista Veja em Brasília, e
o governador de Goiás, Marconi Perillo. Também recomenda que o Conselho
Nacional do Ministério Público investigue o procurador-geral da República,
Roberto Gurgel. Gente como os governadores do Distrito Federal, o petista Agnelo
Queiroz, e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, saíram incólumes.
O objetivo do relator
com seu texto resta evidente: transformar as conclusões da CPI numa revanche do
partido dos mensaleiros pela condenação impingida pelo Supremo Tribunal Federal
ao maior esquema de corrupção da história política do país. “Quem não pôde
desmontar ‘a farsa do mensalão’ tratou de montar a farsa de comissão”, sintetiza
Dora Kramer n’O Estado de S.Paulo.
Todos os algozes do
PT estão no texto de mais de 5 mil páginas preparado pelo deputado mineiro: a
imprensa investigativa, o Ministério Público, políticos de partidos adversários.
Não há novidade: a regra do jogo petista é transformar instituições
republicanas em armas políticas – além, claro, de atrasar obras, como vimos
nesta semana em relação ao PAC...
Insuflada por Lula,
a CPI da vingança foi instalada em 25 de abril, quando o STF já havia marcado o
julgamento do mensalão, mas ainda não haviam começado as sessões que
magnetizariam a atenção do país e condenariam a passar anos na cadeia a cúpula
do PT à época em que o partido ascendeu à presidência da República.
Tratou-se, portanto,
de uma tentativa de rivalizar as atenções com o julgamento que, contudo, não funcionou
como Lula e seus mensaleiros esperavam. Restou aos desesperados e condenados
petistas, além de aliados seus com a estirpe de Fernando Collor de Mello, usar
o relatório de Cunha como arma política.
Mas o texto é tão
descaradamente desequilibrado e tão acintosamente manipulador que mereceu repúdio
unânime da opinião pública e foi alvo de críticas até de aliados do petismo no
Congresso e na sociedade civil, como a Fenaj. “A irrelevância já é um final
lamentável para a CPI, mas seu completo desvirtuamento será um desserviço ainda
maior”, adverte a Folha de S.Paulo em editorial.
A mais evidente
frente de investigação que deveria ter sido trilhada pela CPI não o foi, por clara
escolha do relator e do PT: a apuração da relação entre a Delta Construções,
uma penca de empresas laranjas e o desvio de cerca de R$ 450 milhões de
dinheiro público, originado do Dnit e de órgãos de diferentes estados e movimentado
pelo esquema de Cachoeira para o bolso de políticos que orbitam em torno do petismo.
A CPI comandada pelos
petistas simplesmente deixou de investigar 117 empresas, muitas delas
fantasmas, que firmaram contratos suspeitos com a Delta, além de não
identificar os beneficiários do dinheiro que azeitava as engrenagens do poder
na máquina pública federal. O relator também deixou da abordar a revelação,
feita em agosto por Luiz Antonio Pagot, de que o Dnit foi usado para levantar
dinheiro para a campanha que elegeu Dilma Rousseff em 2010. Não espanta que, apesar
de considerada inidônea pelo TCU, a Delta mantenha-se como vice-campeã entre as
empresas contratadas para obras federais...
Mas tal manobra
governista não passará incólume, já que parlamentares da oposição e
independentes deverão apresentar ainda hoje relatório paralelo com conclusões
consistentes resultantes das investigações dos últimos sete meses. Ali poderá estar
o caminho para se chegar ao dinheiro surrupiado dos cofres públicos e rivalizar
com o verdadeiro tribunal de exceção que o PT instalou na CPI do Cachoeira.
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