Bastou o campo
começar a embarcar a safra agrícola deste ano para as fragilidades logísticas
do país aflorarem. Acumulam-se filas de caminhões e navios nas entradas dos
portos, o frete dispara, as rodovias revelam seu estado lastimável. Quem
paga por isso é o consumidor: o que poderia sair barato fica muito caro.
O Brasil está
colhendo a maior safra de grãos da sua história: são 185 milhões de toneladas,
com crescimento de 11% sobre a anterior. A pergunta que fica é: como esta
montanha de alimentos poderá ser escoada se as artérias de transportes do país
continuam tão ruins – ou até piores – quanto antes?
O governo petista
tem uma vistosa lista de obras e ações de logística e transporte enfileiradas
na prateleira empoeirada do PAC. Mas, como de boas intenções o inferno está
cheio, elas não têm passado disso: boas intenções. Obra que é bom, quase nada.
Mais grave é que, num
país que precisa urgentemente investir para dar conta da força das iniciativas
de seus empreendedores, em particular dos empreendedores agrícolas, o
investimento público em logística e transporte consegue ser declinante, como
mostrou O Globo em sua edição de ontem.
Os investimentos do
Ministério dos Transportes caíram R$ 4,3 bilhões no ano passado em comparação
com 2012. Na pasta que deveria ser o carro-chefe das obras de infraestrutura no
país, eles passaram de R$ 13,5 bilhões para R$ 9,2 bilhões no período. Foi o
pior desempenho em toda a Esplanada.
Em proporção do PIB,
os investimentos em infraestrutura tocados pelo Ministério dos Transportes atingiram
cifra mais baixa que a do recessivo e crítico ano de 2009: 0,21%. A pergunta
que fica é: Será que, com um governo que age com tamanha ineficiência, vai ser
possível produzir “pibões grandões” como quer a presidente da República?
Mais uma vez
desnorteado, e com milhas de atraso, o governo Dilma Rousseff promete agora
adotar “medidas emergenciais” para dar conta do escoamento da safra agrícola
recorde, conforme informa O Estado de S.Paulo em sua edição de hoje. Mais uma vez, revela-se o
improviso que marca as iniciativas desta gestão.
O mais desesperador é
que, mesmo nas raras vezes em que age adequadamente, o governo do PT não
consegue fazer bem-feito. É o caso das rodovias privatizadas a preço de banana pela
gestão de Luiz Inácio Lula da Silva em 2007. Cinco anos depois, boa parte dos
investimentos previstos nos contratos ainda não aconteceu.
No domingo, o Estadão
mostrou que, de um total de R$ 4,5 bilhões que deveriam ter sido aplicados na
melhoria das condições das estradas privatizadas nos cinco primeiros anos de vigência
dos contratos, 20% ainda estão engavetados e demorarão anos para de lá sair.
Alguns exemplos são a
duplicação de um perigosíssimo trecho da BR-116 (Régis Bittencourt) na Serra do
Cafezal, em São Paulo (obras que, na melhor das hipóteses, vão durar três anos para
serem feitas), o contorno da Grande Florianópolis e a duplicação da avenida do
Contorno no Rio. Todas são consideradas intervenções “prioritárias”. Imagine se
não fossem...
Com as artérias
entupidas, o país corre o risco iminente de enfartar, sufocado por estradas de
má qualidade e conservação, portos caros e ineficientes, ferrovias
insuficientes e aeroportos em petição de miséria. Durante um tempo, o governo
petista tentou culpar outrem pelos problemas. Mas, passados dez anos e depois
de muita lambança, quem tem que responder por este lastimável estado de coisas
são eles.
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