Nunca antes na
história, uma iniciativa havia sido vetada pela presidente da República para,
meses depois, ser apresentada com fanfarra eleitoral como medida do governo,
como aconteceu na sexta-feira com o anúncio da desoneração da cesta básica.
Dilma Rousseff
ocupou 11 minutos de rede obrigatória de rádio e TV – quanto custa isso para o
contribuinte em termos de renúncia fiscal? – para anunciar a mesmíssima medida
que ela havia vetado
em setembro de 2012, pela simples razão de conter um pecadilho mortal: ter sido
apresentada pela oposição.
A desoneração da
economia é uma bandeira histórica do PSDB: em estados como São Paulo e Minas, a
cesta básica já é desonerada de ICMS. Em setembro, o então líder da bancada
tucana na Câmara, Bruno Araújo (PE), propôs a desoneração da cesta de todos os
tributos federais. A medida foi aprovada pelos parlamentares, mas não escapou
das mãos de tesoura de Dilma. Por quê?
Um dos pontos a se
questionar é a irresponsabilidade da presidente em relação às condições de vida
da população e, em particular, ao recrudescimento da inflação. É de se
perguntar: Se alimentos e produtos de higiene e limpeza já tivessem sido
desonerados, o custo de vida estaria tão pela hora da morte como está agora?
Vejamos o que
ocorreu com o comportamento dos preços da cesta básica nestes últimos seis
meses em que Dilma privou os brasileiros de pagarem menos pela comida e pelos
produtos de limpeza. Segundo o Dieese, o valor aumentou, em média, 9,9% desde
setembro passado. Na média, o valor das cestas apurado em 17 capitais (Campo Grande
ainda não era pesquisada) subiu R$ 24,80.
Se a desoneração já
estivesse valendo em setembro, como queria a oposição, os cidadãos de Salvador,
por exemplo, possivelmente não estariam gastando hoje R$ 52,33 a mais do que
gastavam seis meses atrás para alimentar-se e cuidar da higiene e os de Recife
não estariam pagando 16,44% a mais do que pagavam pelos mesmos itens.
Na realidade, a desoneração
da cesta tornou-se premente para o governo petista na medida em que as
labaredas da inflação foram lhe consumindo o chão. Também na sexta-feira, horas
antes de Dilma ir à TV e o governo torrar mais uma grana mandando rodar uma
edição extra do Diário Oficial da União
que anuncia algo que poderia já ter sido adotado seis meses atrás, a escalada dos
índices de preços mostrou seu ímpeto.
A inflação oficial
de fevereiro veio acima do previsto (0,6%), acumulando 6,31% em 12 meses – não fosse
a redução das tarifas de energia, em vigor desde janeiro, já estaria em 6,82%,
bem acima do limite superior da meta para este ano.
Apenas em dois meses
deste ano, o IPCA já comeu um terço da meta para 2013 e, ao longo deste mês de março,
deverá furar o teto no acumulado em 12 meses. Os aumentos se disseminam por
mais de 72% dos produtos – o que não ocorria desde 2002.
Como o fogo está
saindo do controle, o Planalto, em desespero, se viu obrigado a acelerar a
desoneração, que, a princípio, só viria em maio, se dependesse só das vontades
de Dilma.
O que se percebe é que
o governo age em descompasso com a realidade, lança mão de remendos para tentar
dar conta de problemas estruturais e transforma, ostensivamente, atos oficiais em
eventos de campanha eleitoral. Neste aspecto, espaço privilegiado ocupam as
cadeias oficiais de rádio e televisão: já foram duas em pouco mais de dois
meses neste ano, ante quatro ao longo de 2012 e cinco em 2011.
Nem toda a sanha
eleitoreira ou a mesquinharia partidária petista, contudo, podem justificar a malvadeza
de ter privado os cidadãos brasileiros de terem alimentos mais baratos na mesa,
retardando, por puro cálculo político, uma medida apresentada pela oposição e
aprovada pelo Congresso. Mas o PT é capaz de tudo: para o partido dos
mensaleiros, o povo é só um detalhe.
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