O Comitê de Política
Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a taxa básica em
7,25% ao ano. Até aí nada de surpreendente ou inesperado. A novidade está na avaliação
praticamente unânime dos analistas, feita a partir do comunicado emitido ontem
pelo BC, de que, logo logo, os juros voltarão a subir no país.
Desde outubro, a
sinalização era de que os juros se manteriam no patamar atual por período de
tempo “suficientemente prolongado” – emblemática expressão que orientou as
expectativas nos últimos meses. Ontem, esta perspectiva desapareceu do papel e
do horizonte. Trata-se de uma guinada nas intenções que o BC vinha explicitando
nos comunicados que se seguem às reuniões do Copom.
Ontem, o Copom
limitou-se a informar
que “irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima
reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política
monetária”. A cautela é adequada, e até mesmo justifica-se. Mas o que espanta é
o ir e vir da autoridade monetária num assunto tão crucial para o país.
Numa atitude
correta, o governo atual conduziu os juros básicos brasileiros ao seu menor nível
histórico. Desde que a Selic chegou ao seu mais baixo patamar, em outubro
passado, o BC passou a indicar que esta era uma estratégia duradoura. Mas passaram-se
apenas cinco meses para a posição mudar – apenas para cotejar: nos EUA, a
taxa básica está em 0,25% ao ano desde dezembro de 2008. Com isso, há agora uma
certeza: os juros brasileiros vão voltar a subir. A dúvida é quando.
“Se [o Copom] elevar
a Selic será muito provavelmente para reparar um dano que o próprio governo
provocou. Ao transformar a redução dos juros em um objetivo político e induzir
os mercados a considerar que o BC, nesta gestão, não tem autonomia operacional
para administrar os juros básicos conforme os ciclos econômicos, o governo
feriu a credibilidade da instituição”, sustenta o Valor Econômico em texto na sua primeira página de hoje – prática pouquíssimo
usual, aliás.
Desde o início do
atual governo, a estratégia do BC para enfrentar a inflação mudou várias vezes,
diminuindo a previsibilidade da política monetária. Se não têm convicção sobre
qual nível de preços o governo de fato persegue e qual dose de remédio (juros)
usará para controlá-los, os agentes econômicos simplesmente passam a apostar
para todo lado. Vira uma roleta, às vezes russa.
“O BC precisa voltar
a coordenar expectativas dos agentes econômicos, que, desde a segunda metade de
2010, estão desancoradas. Se não fizer isso logo, corre o risco de ver a
inflação se tornar cada vez mais resistente”, analisou Cristiano Romero no Valor
de ontem. Quanto menor a previsibilidade, maior a insegurança.
É mais ou menos o
que está acontecendo também com os preços dos combustíveis. O aumento do óleo
diesel, anunciado nesta semana, corrige parte das distorções da política adotada
pela Petrobras, e que lhe custou perda de cerca R$ 23 bilhões no ano passado. Mas
o reajuste chega novamente de surpresa, tornando o inesperado a regra deste
governo.
Foi o segundo
aumento em pouco mais de um mês e o quarto em um ano, depois de longuíssima
temporada de virtual congelamento dos preços, como parte da política de
controle da inflação posta em prática pelo governo petista. A decisão é boa para a
Petrobras (cujas ações obtiveram ontem a maior alta
diária em 14 anos), embora ainda não seja suficiente para eliminar as
defasagens – estimadas em cerca de 15% – em relação às cotações no exterior e seus
prejuízos para a outrora maior companhia brasileira.
Aqui, novamente, o
que perturba é a incerteza, a falta de previsibilidade. Cria-se um ambiente em
que os que mais ganham são os franco-atiradores. “A questão de fundo é a falta
de critério que defina os preços. As atualizações saem da cartola quando e nas
proporções que o governo quer. Trata-se, portanto, de um elemento de
insegurança e de instabilidade entre outros tantos que permeiam a atual
política”, comenta Celso Ming n’O Estado de S.Paulo.
É neste caldo de incertezas
que vicejam as más expectativas, a imprevisibilidade, a instabilidade e a
ameaça de descontrole inflacionário. Trata-se do pior ambiente para um país que
necessita, urgentemente, voltar a ter horizontes desanuviados para reconquistar
investimentos e acelerar o seu desenvolvimento. Andando em ziguezague, a gestão
petista não tem nos ajudado a sair desta encruzilhada.
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