Com Dilma Rousseff
perdendo força na corrida eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva tem voltado a
ocupar mais espaço e se dedicado a agitar a militância petista. Tais ocasiões,
cada vez mais comuns, demonstram o desespero que lhes assombra. Mas são também valiosas por revelar a forma com que o petismo enxerga o papel que um governo
deve desempenhar na vida das pessoas.
A reflexão vem a
propósito de mais uma das declarações abjetas dadas pelo ex-presidente. Desta
vez, na sexta-feira passada, ele discorreu acerca das melhorias que o governo
dele e de sua pupila prometeram aos brasileiros e não entregaram. No caso
específico, a ligação dos estádios da Copa a redes de metrô.
Em encontro com blogueiros
pagos pelo governo para falar bem do governo, Lula saiu-se
com esta: “Nós nunca reclamamos de ir a pé [ao estádio]. Vai a pé, vai
descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. A gente está
preocupado? Ah não, porque agora tem de ter metrô até dentro do estádio. Que
babaquice que é essa?”
Lula parece
insuperável no seu estoque de declarações jocosas. Não fosse um líder tão
popular, já seria tratado por muito mais gente com o escárnio e a condenação
que merece quando afirma coisas assim.
Mas a “quase lógica” de Lula – como uma pesquisadora definiu suas manifestações nonsense
numa ocasião – é preciosa para demonstrar que o povo só ocupa lugar destacado no
discurso petista como fonte de voto. Direitos, não tem.
O petista não disse
o que disse à toa. Disse porque, de fato, não acha que seja importante os cidadãos,
seja para ir ao estádio ver seu time jogar ou para locomoverem-se diariamente
para trabalhar, dispor de transporte digno e de qualidade. Se o governo
prometeu e não cumpriu, como é a tônica das gestões petistas, dane-se: “Vai de
jumento”.
Como pode um líder político
com tamanha desonestidade e desrespeito pretender ainda manter seu grupo no comando
do país? Como um partido que trata seus compromissos desta forma pode querer
que milhões de brasileiros lhe garantam o voto que, pelo jeito, só serve mesmo
é para manter abertas as portas de milhares de boquinhas no aparato do Estado?
É perda de tempo
rebater Lula apenas com alegações racionais, dados objetivos, honestidade de argumentação.
Mas, só para registro, das 12 cidades-sedes da Copa, apenas três têm estações
de metrô próximas a estádios. Em outras duas, havia previsão de construção, mas
foram adiadas, talvez para as calendas. Em síntese, somente 10% das obras de
mobilidade urbana associadas à Copa estão prontas.
Em resposta, o
governo da presidente Dilma prepara mais uma campanha publicitária milionária
para tentar convencer os cada vez mais incrédulos brasileiros de que a promoção
da Copa pelo Brasil está valendo a pena. Competência para isso, os petista têm
de sobra. Mas legado que é bom, o torneio até agora não deixou quase nenhum.
Na semana passada, a
Folha de S.Paulo publicou levantamento sobre as 167 obras e ações previstas
para o campeonato de futebol. Faltando menos de um mês para o início do evento,
só 68 estão prontas, ou seja, menos da metade. Outras 88 (53%) ainda estão
incompletas ou ficarão para depois da Copa. Onze obras – cerca de 7% – foram simplesmente
abandonadas e não sairão do papel
A Copa e seu legado inexistente
acabam sendo um microcosmo do que acontece no país em geral nestes últimos
anos. As promessas são muitas e vistosas. As realizações são parcas e, não
raro, decepcionantes. São obras e intervenções há muito aguardadas, mas que
nunca chegam; são serviços pessimamente prestados, sem perspectiva de melhora.
É possível que Luiz
Inácio Lula da Silva também considere “babaquice” os brasileiros reclamarem atendimentos
decentes nos hospitais públicos, pedirem educação que lhes permita sonhar com
um futuro menos penoso e segurança para dormir em paz e não ter o filho subtraído
pelo crime.
São todos direitos
de cidadãos que pagam seus impostos, cumprem suas obrigações, desempenham seu
trabalho honesto, cuidam de suas famílias. Labutam, enfim, e tentam dignamente
construir um amanhã melhor para si e para a comunidade. Declarações como a que
Lula deu são um soco no estômago do orgulho desta nossa gente.
Há, sim, muita
babaquice no país: em governantes que veem as demandas da população com tanto
desdém, que encaram as promessas que fazem com tamanho descompromisso, que
enxergam o poder como mero meio de vida. O que as pessoas mais querem são líderes
que cuidem bem e zelem por elas. Com a dignidade e o respeito que merecem. Lula
e o PT, certamente, não dispõem destes atributos.
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