A indústria
brasileira enfrenta crise aguda. Nos últimos anos, vem perdendo importância
relativa na composição de nossa economia. Nem mesmo a aguardada revisão da
metodologia de pesquisa sobre o desempenho do setor foi capaz de revelar um retrato
mais benigno da situação. Enferrujamos.
Ontem, o IBGE divulgou
os resultados da produção industrial brasileira no primeiro trimestre. No cômputo
geral, houve aumento de apenas 0,4% entre janeiro e fevereiro, na comparação
com igual período de 2013. O desempenho permite projetar um PIB fraco no ano –
o que já se tornou consenso entre analistas.
O IBGE mudou a forma
de avaliar o comportamento da indústria porque sua base metodológica estava
defasada e não considerava produtos que, hoje, são ícones de consumo, como
tablets e smartphones. Com o novo recorte, a indústria brasileira passou de um crescimento
de 1,2% para 2,3% em 2013.
Mas o retrato das
nossas fábricas continua marcado pela ferrugem. Hoje, a participação da
indústria de transformação no PIB é a mais baixa em mais de 60 anos de história.
Evidencia-se, assim, um indesejável processo de desindustrialização, cuja
marcha os governos recentes nada fizeram para estancar. Pelo contrário.
Em meados da década
de 80, a indústria respondia por 27% do PIB brasileiro. Desde então, vem caindo,
até chegar aos 13% registrados no ano passado. Nunca antes mergulhamos tão fundo.
Nosso setor industrial produz
hoje nos mesmos níveis de 2008, ou seja, lá se vão seis anos perdidos. Entre 2011 e
2013, cerca de 230 mil empregos industriais – justamente os que tendem a ser
mais qualificados e bem remunerados – foram eliminados.
Trata-se de retração
muito prematura, que se dá muito antes de a renda média do país atingir os
patamares que as economias avançadas tinham alcançado quando suas indústrias
começaram a perder espaço no conjunto da economia.
Hoje, a indústria
nacional não encontra condições de competir, ganhar mercados, nem manter os
existentes. Em síntese o que acontece é que o produto nacional tornou-se caro, perde
espaço interno, não consegue manter clientes no exterior, nem conquistar novos.
Definha.
Não conseguimos
vender ao exterior e compramos cada vez mais: no ano passado, a balança
comercial da indústria brasileira registrou déficit de US$ 105 bilhões, um
rombo histórico. Pudera: o custo de se produzir, por exemplo, uma máquina no
Brasil é 37% maior do que fabricar a mesma máquina na Alemanha, de acordo com a
Abimaq.
Nossos problemas são
amplamente conhecidos: alto custo de produção, agravado por burocracia e impostos
que o governo petista ainda cogita aumentar mais; ineficiência logística e infraestrutura
defasada; baixa qualificação da mão-de-obra; parcos investimentos em inovação; e
isolamento cada vez maior do país das cadeias globais de produção.
Não há soluções
simples para esta situação. A debacle da indústria brasileira exige uma
resposta sistêmica, que parta da recuperação das condições macroeconômicas – as
mesmas que Dilma Rousseff, e só ela, crê estarem “bombando” – e ataque
gargalos, transformando-os em oportunidades.
Incentivo à pesquisa
e à inovação, maior integração global e melhores condições para investir e
produzir são fundamentais para recuperar a competitividade e a produtividade perdidas.
E o apoio indutor do Estado deve servir como alavanca – democraticamente, e não
apenas para uns poucos escolhidos, como tem acontecido com a política de crédito
que tem no BNDES seu principal artífice.
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