A Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que o Congresso deve instalar hoje é mais
uma chance de tentar recuperar a maior empresa do país. Há razões de sobra para
uma investigação séria dos desmandos, dos equívocos e das falcatruas cometidas
dentro da Petrobras nos últimos anos por gente que se apossou da companhia para
parasitá-la.
Diferentemente do
que sustenta o governo, a cada dia que passa há mais, e não menos, motivos para
que funcione uma CPI séria no Congresso, sem os vícios das composições chapa
branca que o Palácio do Planalto quer impor à atividade parlamentar. Tem sido
assim, dia após dia, nas últimas semanas e meses.
Os descalabros na Petrobras
já vêm de anos, são revelados pela imprensa e denunciados pela oposição quase
cotidianamente. Mas as descobertas se acentuaram depois que a Polícia Federal
deflagrou a Operação Lava Jato, que investiga o funcionamento de um esquema que
pode ter desviado R$ 10 bilhões da estatal.
A operação foi detonada
em 17 de março. Desde então, há uma sucessão de más notícias e revelações
envolvendo a Petrobras, aumentando as suspeitas de malversação de recursos da
companhia, pagamentos de propinas, desmandos e má gestão na maior empresa
pública do país.
Mais: nenhuma novidade
que tenha vindo à tona desde então desabonou ou desautorizou a necessidade de
aprofundamento das investigações de negócios escusos envolvendo a Petrobras,
conforme pede a oposição. Pelo contrário.
Uma manifestação recente
resume o estado de coisas na Petrobras hoje: segundo documento
da PF, há “possível existência de uma organização criminosa no seio da empresa,
que atuaria desviando recursos com consequente remessa de valores ao exterior e
retorno do numerário via empresas offshore”.
Nestes dois meses e
pouco, soube-se do envolvimento de um ex-diretor da empresa em desvios
bilionários, em negociações tenebrosas e decisões temerárias: Paulo Roberto
Costa, que ocupou o cargo de 2004 a 2012, preso pela PF em março e solto na
semana passada por determinação do ministro Teori Zavascki. As suspeitas são de
crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e evasão de divisas, entre outros.
Algumas decisões de
Costa se deram ao léu do resto da diretoria e do conselho de administração da Petrobras;
outras, porém, contaram com a chancela oficial de ambos os órgãos, como foram
os casos da ruinosa compra da refinaria de Pasadena, no Texas, e da construção
da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, com custos multiplicados por dez.
Nestes dois meses e pouco,
também vieram a público as lambanças na construção da refinaria maranhense que
só tem terraplanagem, mas já consumiu R$ 1,6 bilhão; parlamentares (tanto
próceres do PT, quanto gente fora da base aliada) se viram envolvidos em
favores trocados com o doleiro Alberto Youssef; pipocaram denúncias contemplando pagamento de propinas em negócios da Petrobras.
Ou seja, há razões de
sobra para uma investigação séria, que o governo tenta de todo jeito impedir. A
desmoralização da CPI do Senado, com suas sessões entregues às moscas, serve ao
discurso oficial de desmerecer o ímpeto investigativo da oposição – como,
aliás, já tentou numa outra CPI sobre o mesmo assunto, em 2009.
A CPI Mista, com
deputados e senadores, é oportunidade de pôr ordem numa história que hoje ainda
se encontra dispersa. Os erros cometidos ao longo destes anos todos na
Petrobras não são esparsos, não são fortuitos, não são episódicos. São resultado
de uma estratégia equivocada traçada desde o governo Lula e mantida por Dilma. É
todo o conjunto da obra que é ruinoso. Não investigar é deixar a Petrobras transformar-se
em escombros.
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