Nesta semana,
completam-se 20 anos de uma verdadeira revolução. Em 27 de fevereiro de 1994
foi editada a medida provisória que criou a URV (Unidade Real de Valor) e deu o
primeiro passo para que o Brasil voltasse efetivamente a ter uma moeda forte. Começava
ali uma história de sucesso: o Plano Real. A data será comemorada hoje no
Congresso em sessão solene com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Quando o Plano Real veio
à luz, o Brasil vivia um ambiente de desesperança, desilusão e preocupação. Há
anos sucediam-se tentativas de debelar um processo de corrosão do poder de
compra dos salários que, àquela altura, já descambara para uma hiperinflação. Visto
de hoje, parece inacreditável que o país tenha conseguido suportar e sobreviver
àquela situação.
Em 1993, a inflação brasileira
chegara a 2.477%. No início de 1994, já girava em torno de 43% mensais. Trocando
em miúdos, isso significa que o Brasil tinha uma inflação diária de 1,2%. Se
fossemos anualizar o percentual, resultaria numa inflação de 7.260% em 12
meses. Tudo isso deve parecer impensável para quem não viveu aquele processo...
O dinheiro derretia
na mão das pessoas, que tinham que correr para gastar seus salários antes que já
não conseguissem comprar quase nada. Os mais prejudicados eram os mais pobres,
uma vez que não contavam com as alternativas de indexação de que as classes
mais ricas, que tinham conta em banco e aplicações financeiras, dispunham. Estabilizar
a moeda era, portanto, também ação de larguíssimo alcance social.
O processo rumo à
estabilização foi conduzido pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique
Cardoso. Ele fora escalado pelo presidente Itamar Franco, em maio de 1993, com
a meta de acabar com a hiperinflação, que simplesmente dizimava todas as
chances de sucesso do país, e organizar a vida econômica do país. Algo que, àquela
altura, soava simplesmente impossível.
O Plano Real foi
concebido sob a premissa da transparência e do diálogo franco com a sociedade. Nada
de congelamento de preços, pacotaços ou medidas tomadas de surpresa. Tudo bem
distinto das seis tentativas anteriores de estabilização vividas pelo país
desde a redemocratização; todas fragorosamente fracassadas, levando a população
a se frustrar, mas nunca a perder a esperança.
O plano seguiu
adiante até que, em 1° de julho daquele ano, o país passou a contar com uma
nova moeda. Nascia ali o real, nosso oitavo padrão monetário em 50 anos. Para
se ter ideia da fúria da inflação e seu poder destrutivo, durante estas cinco
décadas 18 zeros foram cortados de nossa moeda. Superar este histórico de
decepção era um desafio e tanto.
Nestes últimos 20
anos, o país registrou inflação média anual de 8%. Uma vitória e tanto se
comparada ao caos que assolava o Brasil até 1994. Mas, ainda assim, um nível
elevado, que demanda atenção e cuidado de governantes comprometidos com o
bem-estar dos brasileiros. Para êxito completo, nosso nível de preços
precisaria baixar mais, garantindo a tranquilidade que a população precisa e melhores
condições para a retomada do desenvolvimento sustentável.
É preocupante que,
duas décadas depois, a inflação ainda esteja em pauta e ainda assuste os
brasileiros. Ano após ano, os preços têm subido bem acima da meta fixada pela
política monetária. Hoje, ao invés de perseguir os 4,5% fixados pelo Conselho Monetário
Nacional, o governo parece ter se satisfeito em conviver com algo na faixa de
6% anuais. Mais preocupante é que instrumentos artificiais e estratégias que já
se revelaram fracassadas no passado são agora usadas para evitar um descontrole
maior de preços.
Os 20 anos de início
da estratégia vitoriosa do real permitem celebrar uma verdadeira revolução institucional
que reconfigurou o Brasil, e que suplantou em muito a mera mudança de moeda. A
estabilidade monetária restituiu às pessoas referências de valor que a inflação
corroera. Mais que isso, descortinou a possibilidade de o brasileiro voltar a sonhar
com o futuro – e de planejar como chegar lá.
Este mesmo espírito
pode mover e entusiasmar os brasileiros que hoje querem voltar a ter esperança num
país melhor. O Plano Real demonstrou ser possível triunfar nas piores condições,
sob condições que alguns julgavam insuperáveis – vale recordar que, na ocasião,
o próprio PT apostou nisso. A estabilização tornou-se, assim, a maior conquista
da sociedade brasileira na história recente.
Hoje, o Brasil tem
desafios tão ou mais dramáticos que os de duas décadas atrás. Mas o sucesso da nova
moeda, alcançado por uma brilhante equipe liderada por Fernando Henrique,
comprova que o país tem plenas condições de superar a desesperança, a falta de
credibilidade e de confiança que hoje acometem pessoas e desestimulam empresas.
Basta dispor de um governo que alie ética, competência e vontade de fazer, como
tivemos 20 anos atrás.
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