Dilma Rousseff faz
hoje as primeiras mudanças na composição de seu ministério previstas para este
ano. Não há, na iniciativa, o menor sinal de pretensão da presidente de melhorar
o desempenho de seu fraco governo. Há, tão somente, uma lógica eleitoral, agravada
pelo desdém exibido por ela em relação aos óbices que pesam contra alguns dos
novos titulares.
Serão quatro as
mudanças processadas nesta manhã: Aloizio Mercadante assume a Casa Civil e
deixa a Educação para José Henrique Paim; Arthur Chioro ocupará o Ministério da
Saúde e Thomas Traumann será o novo secretário de Comunicação Social. Alguém é
capaz de esperar que, com estes novos nomes, alguma destas pastas melhore sua
atuação? Difícil.
O que está por trás
dessas mexidas é a agenda eleitoral. Nos casos da Saúde e da Casa Civil, por
razões formais, pois seus antigos postulantes disputarão votos em outubro. Alexandre
Padilha e Gleisi Hoffmann ainda poderiam permanecer no cargo até o início de
abril, porém. Saem mais cedo para pilotar a máquina petista de fazer política
nos seus estados: São Paulo e Paraná, respectivamente.
Na realidade, o futuro
candidato ao governo paulista nem teve o pudor de esperar deixar o cargo de ministro
de Estado para protagonizar atos extemporâneos de campanha eleitoral pagos com
dinheiro do contribuinte. Estrelou, na quarta-feira da semana passada, um
pronunciamento de mais de 4 minutos alegadamente para tratar de uma campanha de
vacinação que só começará em março. Nunca antes na história se viu tamanha
desfaçatez.
Em sua quinta
aparição em rede nacional de rádio e TV, o ministro inspirou-se no exemplo dado
pela presidente Dilma em seus pronunciamentos e deitou a fazer campanha
política, desdenhando o interesse público. O suposto objeto do pronunciamento –
a vacinação de meninas de 11 a 13 anos contra o HPV – foi mero pretexto para o
proselitismo eleitoreiro de Padilha.
A lógica eleitoral
também fica evidente na mudança processada na Secretaria de Comunicação. Sem nenhum
pejo, o governo petista fez divulgar que a saída de Helena Chagas para a entrada
de Thomas Traumann visa alinhar as iniciativas do Planalto com as estratégias de
comunicação da campanha pela reeleição. Tudo isso dito à luz do dia, de cara
lavada...
A substituição na
Secom também abre espaço para a turma de petistas que defende que verba pública
deva ser usada para alimentar blogs alinhados ao partido e ao governo e para presentear
empresas de comunicação que mais parecem agências de notícias oficiais. Também recoloca
no horizonte a ameaça de imposição de algum “controle social” sobre a mídia, a
censura que o PT tanto acalenta.
A confirmação dos
nomes dos novos ministros também foi acompanhada, ao longo da semana passada,
da revelação de que alguns deles respondem a denúncias de irregularidades ou mantiveram
no passado condutas incompatíveis com a ocupação de cargos públicos. Nada,
porém, foi suficiente sequer para corar a presidente ou, muito menos, para demovê-la
das nomeações.
Enquanto ocupou o
cargo de secretário de Saúde em São Bernardo do Campo (SP), Arthur Chioro
manteve-se como sócio de uma consultoria que atuava prestando serviço para
outras prefeituras na área de – surpresa! – saúde. Flagrado, informou que se
afastará da empresa, mas deixará o negócio nas mãos da esposa. Para o PT,
conflito de interesses resolve-se dentro de casa mesmo.
Dias depois de o
caso de Chioro vir à tona, ficamos sabendo que a raposa já cuidava do galinheiro
na Saúde há muito tempo. Na quinta-feira passada, a Folha de S.Paulo revelou que, sob a gestão Padilha, o ministério firmara
convênio com uma ONG fundada e mantida pelo pai do ministro. O
ministro-candidato disse que não via nada de mais nisso, mas para “poupar a
instituição de qualquer exploração política” cancelou o convênio de quase R$
200 mil. Que bonito.
Nenhum dos novos ministros
de Dilma passou incólume pelo filtro de ilibada reputação que deve acompanhar a
ocupação de um cargo público. José Henrique Paim ascenderá hoje ao principal
cargo do MEC ainda tendo de responder como réu a uma ação civil pública que
corre na Justiça Federal em São Paulo desde 2006 por irregularidades
identificadas pelo Ministério Público num convênio de R$ 491 mil firmado entre
o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, então presidido por ele, e uma
ONG.
Nenhuma das
acusações que pesam sobre os novos ministros ou sobre as atitudes de alguns dos
que hoje deixam seus cargos na Esplanada dos Ministérios foi produto de alguma
central de denúncias da oposição ou foi urdida por algum aloprado interessado
em prejudicar adversários políticos. São fruto de investigações de órgãos de Estado
e do trabalho livre da imprensa.
Fosse outro o padrão
ético e de conduta do atual governo, é possível que alguns dos novos ministros
não fossem aprovados para os novos cargos. Mas a ordem vigente em Brasília
resume-se a duas palavrinhas: vale tudo. É o salvo conduto vindo de cima que os
petistas transformaram em regra. É o pessoal fazendo o diabo para tentar reeleger
Dilma e manter-se no poder.
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