Os resultados
positivos divulgados ontem pela Petrobras não devem servir para esconder os
desequilíbrios, os descaminhos e o mau uso que o governo da presidente Dilma Rousseff
vem impondo à maior empresa do país. A companhia é um orgulho nacional e
poderia estar produzindo muito mais bem-estar para os brasileiros.
A Petrobras
apresentou lucro líquido de R$ 23,6 bilhões no ano passado. Depois de dois anos
em queda consecutiva, os ganhos cresceram 11% na comparação com o exercício
anterior. Este é, porém, o terceiro pior resultado desde 2006, superando apenas
os registrados em 2007 e 2012, de acordo com O Estado de S. Paulo.
No quarto trimestre,
o lucro da empresa caiu 19% na comparação com o mesmo período do ano anterior,
para R$ 6,3 bilhões. É o pior resultado registrado pela Petrobras para períodos
de outubro a dezembro em seis anos, de acordo com O Globo. No ano passado, a empresa perdeu R$ 40 bilhões em valor de
mercado.
Outro resultado
decepcionante deu-se naquilo que é o coração da empresa: extrair e produzir
petróleo. A produção voltou a cair: desta vez 2,5%, para 1,931 milhão de barris
diários em média. Como em 2012 o volume produzido já havia diminuído, a atual
gestão tornou-se a primeira nos 60 anos de história da companhia a registrar
duas baixas seguidas.
O balanço divulgado
ontem também reitera muitos dos problemas que a estatal tem sido obrigada a
enfrentar, principalmente em função de ter sido convertida pelo governo federal numa
espécie de muro de arrimo para conter a inflação.
A empresa produz
menos do que a demanda interna exige e, por isso, é obrigada a importar cada
vez mais. No ano passado, 400 mil dos 2,4 milhões de barris de derivados que o
país consome diariamente vieram do exterior, informa a Folha de S.Paulo. Afinal, onde foi parar a alardeada autossuficiência que o
marketing petista tanto cantou em prosa e verso?
Como os derivados
que a Petrobras importa são mais caros que o preço pelos quais ela os revende
no mercado interno, em razão da política de contenção artificial da inflação posta
em voga por Brasília, os prejuízos da companhia se acumulam. O setor
responsável, o de abastecimento, registrou perda de R$ 17,8 bilhões em 2013.
Mesmo tendo obtido
dois aumentos de gasolina e três de diesel no ano passado, os preços internos
ainda estão bastante defasados em relação ao mercado externo: 16% e 22%,
respectivamente. Se a Petrobras não importasse tanto combustível, vá lá. Mas
não é o caso.
No ano passado, a
balança comercial da Petrobras ficou deficitária em US$ 24,4 bilhões, o que
representa o triplo do saldo negativo de 2012, segundo o Valor Econômico. A situação veio piorando ao longo dos últimos anos: em 2009 sequer importávamos
gasolina e, desde então, a compra de combustível vindo do exterior só aumentou
e hoje representa 13% do consumo interno.
Manietado, o caixa
gerado pela companhia em 2013 foi suficiente para cobrir apenas 57% dos
seus investimentos. Com isso, a empresa vê-se pressionada a contrair mais
dívida ou a cortar investimentos. Tanto um quanto outro acabaram acontecendo. O plano de negócio foi revisado e reduzido em 6,8%. Serão US$ 16
bilhões a menos até 2018, conforme anunciado ontem.
O endividamento
também continua alto. A dívida bruta atingiu R$ 268 bilhões em dezembro, com
alta de 36,5% sobre 2012. Vale recordar que, no fim de 2010, após a
megacapitalização da empresa, este indicador estava em R$ 115 bilhões, ou seja,
em três anos mais que dobrou. Não por acaso, a Petrobras foi classificada no
ano passado como a empresa não financeira mais endividada do mundo em relatório
do Bank of America Merril Lynch.
Afora os problemas
contábeis, a Petrobras ainda está às voltas com denúncias de recebimento de
suborno por parte da SBM Offshore, que aluga plataformas flutuantes a
companhias de petróleo. A empresa holandesa teria pago US$ 139 milhões para
obter contratos com a estatal, numa operação que agora deverá ser objeto de investigação
por comissão externa do Congresso.
Além disso, sua
parte operacional também se vê envolvida em denúncias de que plataformas
inacabadas foram lançadas ao mar incompletas e sem os devidos cuidados de
segurança. Tudo para compor a agenda de inaugurações da presidente da República
e engordar um pouco os resultados da já desastrosa balança comercial brasileira
no ano passado.
A Petrobras dispõe de
corpo técnico dos mais qualificados do país e é crucial para que a economia
nacional tenha melhor desempenho – basta dizer que 10% de tudo o que é investido
aqui sai dela. Sua sobrevivência e sua saúde financeira são de interesse da
nação e não assunto que importa apenas a investidores. Defender a Petrobras é
defender o bem-estar dos brasileiros. A empresa ainda precisa e pode melhorar muito.
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