Nesta semana,
completam-se 15 anos da introdução dos medicamentos genéricos no país. Trata-se
de uma das políticas públicas mais exitosas da nossa história recente, seja
pelos significativos efeitos sociais que gera, na forma de ampliação do acesso
da população a tratamentos de saúde, seja pelos relevantes impactos econômicos.
Os genéricos ingressaram
no país depois de longa batalha, que teve nos laboratórios já estabelecidos
seus maiores opositores. A lei (n° 9.787) só foi finalmente aprovada pelos
parlamentares em fevereiro de 1999, numa ampla articulação entre governo,
sociedade e Congresso, liderada pelo então ministro da Saúde, José Serra.
O difícil acesso a
medicamentos era, até então, um forte entrave para o sucesso dos tratamentos de
saúde no país. Barateá-los, preservando a garantia de qualidade, surgia como imperativo
para impulsionar a eficácia das políticas de saúde e, também, como medida de
largo alcance social.
O Brasil adota as
mais avançadas práticas e normas mundiais no que se refere aos genéricos. Nossa
regulamentação garante que eles sejam cópias fidelíssimas dos medicamentos
originais de marca (ou, tecnicamente falando, “de referência”). Ou seja, o
consumidor paga menos por um produto que tem a mesma eficácia e mesmo efeito no
organismo.
Por lei, os
genéricos têm de custar no mínimo 35% menos que os medicamentos de referência de
que são originados. Mas, na prática, acabam sendo ainda mais baratos. Segundo
estimativas da PróGenéricos, associação que reúne os fabricantes de genéricos
no Brasil, os preços mais em conta permitiram uma economia de R$ 48 bilhões aos
brasileiros ao longo destes 15 anos.
Já é possível tratar
a maioria das doenças conhecidas com medicamentos genéricos – são 436
substâncias ativas registradas no país. Hoje os genéricos respondem por 30% do
mercado nacional. Mas dá para ir bem mais longe. Em mercados em que a
participação destes medicamentos é mais antiga e consolidada, o percentual é
bem maior: nos EUA, por exemplo, o índice chega perto de 80%, segundo a PróGenéricos.
Os genéricos também
acabaram se revelando uma exitosa política de incentivo à indústria nacional.
Se, 15 anos atrás, o mercado era dominado pelas multinacionais do setor,
atualmente metade das dez maiores empresas farmacêuticas que atuam no país são
brasileiras. Todas elas produzem genéricos. Há, no total, 115 laboratórios
fabricantes no país, segundo a Anvisa.
Instrumento fundamental
para a disseminação dos genéricos é a participação do poder público no
esclarecimento da população. Passados 15 anos, ainda são muitos os brasileiros
que desconhecem a existência de alternativas mais baratas para seus tratamentos
de saúde. E muitos os que ainda desconfiam de sua eficácia. Informá-los é iniciativa
de grande alcance social.
Ocorre que, há
muitos anos, os genéricos passaram a ser relegados pelo governo federal e
perderam prioridade na política de saúde petista. Por que será?
Será apenas por que foram
adotados no Brasil à época do governo Fernando Henrique? Será por que os
genéricos representaram um duro golpe, na forma de concorrência salutar, no
poder de mercado dos grandes laboratórios farmacêuticos?
Fato é que, na era
petista, o governo federal escanteou os genéricos. Nestes últimos 11 anos
jamais se viu campanha de esclarecimento da população e de incentivo ao consumo
de uma alternativa mais barata e igualmente eficaz de tratamento de saúde. Na
realidade, o PT faz o contrário: confunde a população.
No início do ano, a
Anvisa anunciou
que, agora, os medicamentos similares também poderão substituir os remédios de
marca (ou “de referência”). Para tanto, terão de passar pelos mesmos testes que
os genéricos e serão particularmente identificados na embalagem com um símbolo –
igualzinho se fez com os genéricos.
A pergunta que fica
é: por que, ao invés de criar uma nova categoria, o governo simplesmente não
incentivou a transformação dos similares em genéricos, cobrando-lhes o mesmo
rigor? Mais: por que, nos últimos anos, o governo federal, por meio da Anvisa, simplesmente
dificultou os registros de genéricos, tornando os procedimentos mais morosos e os
trâmites mais demorados?
Contudo, à revelia
das resistências de uma visão apequenada do que é servir a população, os
medicamentos genéricos se impuseram e ajudaram milhões de brasileiros a ter um padrão
de saúde mais digno e uma vida melhor. É raro quando se pode comemorar uma
conquista tão importante para a população e inconcebível que algo tão positivo seja
alvo de sabotagem.
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