O modelo concebido
por Dilma Rousseff para o setor elétrico brasileiro está fazendo água por todos
os lados e ameaça naufragar – e olha que a falta de chuvas é apenas um de seus muitos
problemas. A fantasia das contas de luz baratinhas reduzidas na marra mal sobreviveu
a um verão. Vêm aí tarifas mais altas, embaladas num risco-monstro de apagão.
Há pouco mais de um
ano, a presidente foi à TV para anunciar aos brasileiros que as tarifas de
energia ficariam 20% mais baratas. Um objetivo meritório e desejável, que foi,
porém, imposto goela abaixo ao setor e à revelia até de São Pedro. Não tinha
como dar certo. Desde então, os improvisos foram se sucedendo e os desequilíbrios,
se avolumando. A fatura da barbeiragem já vai chegar.
Ontem a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou
que as contas de luz terão que subir 4,6% neste ano para compensar despesas extras
que o setor vem acumulando. São gastos com subsídios, indenizações decorrentes
da revogação truculenta de contratos e acionamento mais intenso de usinas térmicas
– nunca queimamos tanto combustível poluente quanto agora. Ou seja, resultantes
de um modelo em desequilíbrio.
Mas o tarifaço não
deve parar por aí. Só à custa de muito dinheiro injetado pelo Tesouro – isto é,
o meu, o seu, o nosso dinheiro pago ao governo como imposto – é que as tarifas ainda
não explodiram de vez. Há cálculos abalizados dizendo que, apenas para
compensar o que já foi gasto desde o ano passado e ainda não foi repassado para
as tarifas, o aumento deveria beirar 10%, segundo a Folha de S.Paulo.
No ano passado,
quase R$ 10 bilhões foram injetados pelo governo no setor para bancar as
despesas decorrentes da intempestiva decisão de cortar as tarifas na base do
golpe de facão. Neste ano, serão mais R$ 9 bilhões do Tesouro, insuficientes, contudo,
para fazer frente a despesas calculadas em R$ 17,9 bilhões. Não tem mágica: logo
mais isso bate no bolso do consumidor de energia, ou do contribuinte.
Ao longo de dez
anos, Dilma concebeu, embalou e anabolizou um modelo em que custos e receitas não
se equilibram e que, mais grave ainda, ameaça deixar o país na escuridão, à luz
de velas. Dilma é a presidente do apagão. A média de tempo em que o sistema elétrico
brasileiro fica apagado multiplicou-se por cinco entre 2010 e 2012, e deve ter
aumentado ainda mais no ano passado.
Os jornais de hoje
publicam estudo feito pela mais respeitada consultoria da área de energia do país,
a PSR – não é respeitada só pelo mercado, mas também pelo governo, que recorreu
a ela quando teve de tomar suas principais decisões na área. O documento
informa que o Brasil tem hoje uma probabilidade de 17,5% de enfrentar um
racionamento de energia em 2014. Trata-se de patamar altíssimo: em sistemas
equilibrados, o máximo que se admite é um risco de 5%.
O sistema elétrico
brasileiro caminha hoje sobre o fio da navalha. Praticamente não há
folga entre a energia disponível e o consumo.
Em situações limite, esta sobra deveria ser de pelo menos 5%; no Brasil está
abaixo de 1%, o que “torna o sistema vulnerável a blecautes sistêmicos”, como
publicou hoje o Valor Econômico.
O governo vai
preferir dizer que está sendo vítima das circunstâncias, ou seja, de um verão
quente e seco como há muito tempo não se via. Balela. Desde 2010, quando o
regime de chuvas foi seguidamente ruim, as deficiências estruturais já vinham
sendo detectadas e os alertas, disparados.
A resposta do
governo foi simplesmente dobrar a aposta: incentivar, de maneira populista, o
aumento do consumo por meio da redução das tarifas, tudo no mesmo instante em
que o estoque de água do país caía e a energia raleava.
A PSR não tem dúvidas
em afirmar que o sistema elétrico nacional está em perigo por causa da deficiente
manutenção de equipamentos e, principalmente, de subestações de energia. “A vulnerabilidade
do sistema elétrico não é conjuntural, isto é, não resulta de condições
hidrológicas desfavoráveis nem de um crescimento brusco da demanda. Ela é
consequência de deficiências estruturais na capacidade de suprimento.”
É sabido que as
regras criadas por Dilma, a presidente do apagão, desincentivam os
investimentos em manutenção, por não o considerarem na remuneração dos ativos
que é repassada aos custos e, dali, às tarifas. Além disso, uma Aneel depauperada
pelo garroteamento orçamentário – metade da sua verba é usada para engordar os
resultados fiscais – não fiscaliza as instalações das concessionárias como
deveria.
Dilma Rousseff passará
para a história como uma das maiores farsas que a República brasileira
produziu. Do muito que prometeu, quase nada cumpriu. Naquilo que se arriscou a
fazer, meteu os pés pelas mãos, produzindo malfeitos em profusão. Com que cara
de pau a presidente do apagão tentará explicar aos brasileiros suas lambanças
em série? Dirá que é tudo obra dos “pessimistas de sempre”?
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