Dilma Rousseff deve
estar rindo à toa. Ontem, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
levantou a suspeita de que o apagão de terça-feira – que deixou 13 estados e até
12 milhões de brasileiros no escuro por quase duas horas – pode ter sido
causado por descargas elétricas, os populares raios. Segundo a presidente, esta
hipótese é digna de gargalhadas.
“No dia em que
falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem. Raio cai todo dia neste
país, a toda hora. O raio não pode desligar o sistema. Se desligou, é falha
humana, não é do raio”, disse
a imprevidente presidente da República no dia 27 de dezembro de 2012, em café
da manhã com jornalistas, logo depois de mais um apagão afetar o país.
Depois que o ONS divulgou
sua avaliação ontem, a presidente escalou seu porta-voz para dizer
que “se raios foram realmente responsáveis pela queda no fornecimento de
energia, na última terça-feira, cabe ao ONS apurar se os operadores estão
mantendo adequadamente suas redes de para-raios”. Mas a senhora não havia dito
que era para gargalhar, presidente?
O mais provável é
que os apagões de Dilma – foram 181
desde 2011 e 71 apenas em 2013 – sejam fruto de um modelo irresponsável forjado
pela presidente desde que ela foi ministra de Minas e Energia do governo Lula. Temos
hoje um sistema elétrico caquético, que opera no limite e não consegue
acompanhar uma demanda anabolizada por medidas tomadas pelo próprio governo.
As razões do apagão
de terça-feira só serão conhecidas oficialmente em 15 dias. Mas já são
evidentes alguns fatores que estão minando a segurança do sistema elétrico nacional.
Primeiro, o aumento do consumo não tem sido respaldado por geração suficiente de
energia – e, quando é, quem não acompanha é a transmissão.
Segundo dados oficiais
do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, 71% das obras de transmissão
estão atrasadas. Nas obras de geração, 64% estão fora do cronograma, com atraso
médio de 8,5 meses. A média de expansão de geração e transmissão nos últimos
anos também é menor que o crescimento projetado para a próxima década, mostrou
a Folha de S.Paulo hoje.
Com tamanha
vulnerabilidade, o país registra picos seguidos de consumo. Foram nove em pouco
mais de dois meses. Entre o primeiro, no início de dezembro, e o de ontem, a
demanda cresceu 9%. É energia suficiente para servir 20 milhões de pessoas. O grave
disso não é as pessoas e as empresas consumirem mais. O mais grave é, com a
oferta no limite, o governo incentivar que o consumo aumente.
Conjunturalmente, a alta
do consumo neste verão se deve ao calor infernal que assola boa parte do país. Mas
há um aumento estrutural que é fruto, entre outros fatores, de o governo ter
tornado, na marra, as tarifas mais baratas. A redução por decreto veio no mesmo
momento em que a água dos reservatórios baixava. Ou seja, veio na contramão do
risco crescente de desabastecimento de energia. O nome disso é
irresponsabilidade.
Além disso, há o
problema da manutenção do sistema elétrico. O atual modelo – concebido, gestado
e anabolizado por Dilma – baseia-se na chamada “modicidade tarifária”, ou seja,
na busca da menor tarifa possível para o consumidor. Objetivo louvável, mas de consequências
nefastas quando perseguido de maneira inconsequente como faz a presidente.
Recebendo menos pela
energia que geram, transmitem e distribuem, as empresas concessionárias passaram
a gastar menos na manutenção de seus equipamentos. Até porque as regras do
modelo dilmista de energia não remuneram adequadamente os ativos e
desincentivam os investimentos, como mostrou ontem o Valor Econômico.
O círculo vicioso se
completa com o sucateamento de órgãos que deveriam zelar pela qualidade dos
serviços prestados pelos concessionários. No caso do setor elétrico, a Agência
Nacional de Energia Elétrica. Uma das fontes de recursos da Aneel são taxas
pagas pelos consumidores nas contas de luz, cujo objetivo é justamente custear a
fiscalização dos serviços.
Ocorre que, desde 2011,
a agência recebeu orçamento de R$ 1,5 bilhão, mas metade disso foi
contingenciada pelo governo Dilma. O que significa isso? Que o dinheiro que os
consumidores pagaram para garantir que o serviço que recebem fosse fiscalizado
e sua qualidade preservada foi usado para engordar resultados fiscais de um
governo perdulário. O que foi contingenciado equivale ao dobro do que a Aneel efetivamente investiu desde 2011.
É possível que Dilma
Rousseff acredite que tenha motivos para dar gargalhadas. Mas os brasileiros vão
vendo, dia após dia, que não têm razão nenhuma para achar graça de um governo
que produz trapalhadas em série e, desta maneira, compromete o futuro do país. Dilma
pode até dar suas risadas, mas longe, bem longe, da cadeira de presidente da República.
E à luz de velas.
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