Será uma pena se Dilma
Rousseff não fizer, como é habitual, o discurso de abertura da Copa do Mundo de
Futebol, que começa daqui a 87 dias. A presidente teria muito a explicar a
respeito da enorme frustração que o evento deixará entre os brasileiros em
termos de benefícios duradouros que, esperava-se, fossem gerados. O governo
petista transformou o que era sonho em pesadelo.
O Brasil foi
escolhido para sediar a Copa em outubro de 2007. Lá se vão, portanto, seis anos
e meio, período mais que suficiente para construir o que quer que fosse. Mas não
para o PT. Nunca antes na história, um país-sede indicado pela Fifa tivera
tanto tempo para se preparar. Nunca antes na história, um país-sede chegou às
vésperas do torneio tão despreparado.
Quando o Brasil foi
escolhido, criou-se em torno da realização da Copa do Mundo no país a fantasia
de que o torneio traria uma miríade de benefícios para a população, ajudaria a
impulsionar a economia, a modernizar nossa infraestrutura e, sobretudo, a
melhorar a vida de quem mora nas nossas metrópoles. Basta olhar em volta para
perceber que tudo não passou de devaneio.
A infraestrutura
continua tão em frangalhos quanto estava em 2007, sendo os aeroportos por onde transitarão
os torcedores a melhor imagem do caos que cerca a véspera do evento
futebolístico. Neste caso, o atraso
médio é de seis meses, com metade das obras ainda pendentes – nos terminais de Fortaleza,
Salvador, Confins e Galeão, elas não ficarão prontas a tempo do torneio. Não é
só: portos,
sistemas para fornecimento de energia
e infraestrutura para comunicações
também estão fora do cronograma.
A Copa é um dos
eventos economicamente mais excitantes do planeta, mas encontra no Brasil a sua
antítese. Chegamos ao torneio com a economia em debandada – apenas para
ilustrar, no início do ano passado, as previsões dominantes davam conta de que
o PIB brasileiro se expandiria à taxa de 3,5% em 2014, prognóstico que hoje
está em menos da metade (1,7%). Ou seja, desperdiçamos a oportunidade de gerar
emprego e renda para os brasileiros.
O mais grave,
contudo, é o que aconteceu com a preparação das cidades-sede com vistas à Copa.
A expectativa de transformação dos grandes centros com importantes obras de
mobilidade passou longe de se efetivar. Metade das obras inicialmente previstas
foi deixada de fora. Mas, ainda assim, uma de cada quatro intervenções de
mobilidade programadas não serão entregues a tempo do torneio.
O custo
com a Copa já bateu em R$ 26 bilhões e pode chegar a R$ 33 bilhões, quase 40% acima
do inicialmente previsto. Cerca de um terço disso será torrado com reforma e
construção de estádios, cujo orçamento triplicou
desde o início da preparação até agora.
Os estádios do
Mundial de 2014 serão os mais caros da história no quesito custo por assento:
R$ 13,1 mil. Para se ter ideia da fortuna despendida, Alemanha e África do Sul
gastaram R$ 5,5 mil por assento nas Copas de 2006 e 2010, respectivamente, segundo
o Sinaenco.
E, ao contrário do que costuma dizer o governo federal, quase todo o dinheiro gasto
nos campos de futebol é oriundo de cofres públicos.
A má preparação do Brasil
para a Copa virou até motivo de chacota ao redor do mundo, como foi o caso da
revista francesa So Foot, que alertou aqueles que se dispõem a vir assistir o torneio in
loco a se preparar para encontrar um “bordel”, palavra que em francês pode
designar tanto casas de prostituição quanto bagunça.
Na semana passada,
ficamos sabendo que, infelizmente, Dilma Rousseff, que tanto gosta de exercitar
sua capacidade oratória, será poupada de falar aos brasileiros e ao mundo na
abertura da Copa. A versão oficial é de que a decisão foi da Fifa,
ciosa de que se repetisse em junho próximo o vexame de um ano antes, quando nossa
presidente foi fragorosamente vaiada em Brasília. Mais certo é que se trate de
jogo jogado, a pedido do Planalto.
Mas seria muito
interessante ver Dilma dar sua versão desta triste história, da qual participou
desde o início – primeiro como ministra-chefe da Casa Civil, depois como “mãe
do PAC” e, finalmente, como presidente da República. No mínimo, ouviríamos mais
um de seus rompantes, como o que protagonizou na sexta-feira, ao ser vaiada
em Tocantins. Ou o mais provável é que escutaríamos a torcida canarinho cantando
em uníssono, a plenos pulmões: “Êh, ôh, a Dilma é um horror”.
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