A escandalosa compra da refinaria de Pasadena pode ser só mais um dos
maus negócios feitos pela Petrobras enquanto teve Dilma Rousseff na presidência
de seu Conselho de Administração. Mas pode ser ainda pior: apenas a ponta do iceberg
de uma rede de corrupção e desvio de dinheiro da empresa – ou seja, de patrimônio
dos brasileiros.
As suspeitas surgem da prisão, feita ontem pela Polícia Federal, de Paulo
Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, por envolvimento em
uma quadrilha de lavagem de dinheiro. Ele foi detido por ter sido flagrado
destruindo documentos, entre os quais podem estar papéis relacionados ao malfadado
negócio da Petrobras no Texas. Também tinha em seu poder o equivalente a R$ 1,16
milhão em dinheiro vivo.
A prisão de Costa e as investigações da PF suscitam novas dúvidas sobre
quão nebulosa pode ter sido a operação que resultou na aquisição de uma
refinaria pela qual a Petrobras acabou pagando quase 30 vezes o que ela valia apenas
alguns anos antes. Além da PF, órgãos como o TCU e o Ministério Público apuram
a possibilidade de ter havido grossas irregularidades na transação, como evasão
de divisas e corrupção passiva.
Costa foi um dos responsáveis pelo contrato de compra de Pasadena e
ajudou a fazer o resumo executivo que a presidente da República agora sustenta ter
sido “técnica e juridicamente falho”, fornecendo “informações incompletas” que
levaram a estatal a pagar US$ 1,18 bilhão pela planta industrial em Pasadena. Junto
dele estava Nestor Cerveró, então diretor da Petrobras, atualmente diretor da
BR Distribuidora e desde anteontem sumido do Brasil.
Queridinho de José Dirceu e cheio de padrinhos no Congresso, Paulo
Roberto Costa ocupou a diretoria de Abastecimento da Petrobras entre maio de 2004
e abril de 2012, tempo em que foi classificado na companhia como “superpoderoso”.
Ele entra para a história como o primeiro diretor ou ex-diretor da estatal a
ser preso, e isso revela muito da qualidade da gestão a que a empresa tem sido submetida
pelos governos petistas.
Pasadena não é o único negócio ruinoso feito pela Petrobras nos anos em
que Dilma Rousseff – seja na condição de ministra de Minas e Energia, seja na
de ministra da Casa Civil – presidiu seu Conselho de Administração e teve Paulo
Roberto Costa e Nestor Cerveró na direção. A construção de novas refinarias no Brasil
também levanta suspeitas, como são os casos da Abreu e Lima, em Pernambuco, e
do polo petroquímico Comperj, no Rio, ambas desta época.
Ambas saíram muito mais caras do que o orçamento inicial previa. Ambas estavam
na alçada da diretoria de Abastecimento, sempre sob o comando de Costa. Segundo
O Globo, com base num relatório da Atares Capital Management, a perda
para a Petrobras apenas com o Comperj e com a Abreu e Lima é “da ordem de R$ 40
bilhões”. Nenhuma delas está pronta, apesar de ambas já terem estourado em
muito o cronograma.
O que se pode dizer também das refinarias Premium I e Premium II que a Petrobras
planeja construir em Maranhão e Ceará, respectivamente? Ambas já foram consideradas
“economicamente inviáveis” pela área técnica da companhia, mas continuam no seu
portfólio de investimentos. Estão passando, contudo, por um pente-fino,
determinado pela atual direção da estatal por considerá-las “caras demais” – custariam US$ 20 bilhões e US$ 11 bilhões, respectivamente.
A verdade é que, afundada por gestões temerárias e sufocada em maus negócios,
a Petrobras é hoje apenas uma sombra da companhia poderosa e eficiente que já
foi no passado – a despeito das enormes qualidades de seu corpo profissional
altamente gabaritado. Só nestes três anos em que Dilma preside o país, a estatal
perdeu perto de R$ 200 bilhões em valor de mercado; deixou de ser uma das dez
mais valorizadas do mundo para tornar-se apenas a 121ª.
Constatações desta natureza fornecem razões de sobra para que os
descalabros por que atravessa a Petrobras sejam investigados a fundo. Justificam,
ademais, que o Congresso crie imediatamente uma comissão parlamentar de inquérito
para apurar as responsabilidades de quem conduziu a empresa a poço tão ultraprofundo.
Se até a presidente Dilma Rousseff se diz enganada, algo de muito errado deve
haver e o governo deveria ser o mais interessado em elucidar esta caixa-preta. Antes
que mais gente vá para a prisão ou novos escândalos apareçam.
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