Há razões de sobra para a instalação de uma comissão parlamentar de
inquérito no Congresso para apurar os malfeitos na Petrobras. Não se trata de
vontade exclusiva de partidos de oposição. É a sociedade brasileira que quer
saber o que está levando a empresa a um buraco sem precedentes na sua história.
Há todo um conjunto da obra a ser investigado, bem além de fatos isolados,
embora escabrosos, como as refinarias de Pasadena e Abreu e Lima.
Neste momento, apenas os partidos de oposição ao governo – PSDB, DEM, PPS
e Solidariedade – têm posição firme e unânime em defesa da criação da CPI. Busca-se
agora o número mínimo de assinaturas – 171 na Câmara e 28 no Senado – para a
instalação de uma comissão mista, formada por deputados e senadores. Felizmente,
outras forças políticas começam a se juntar ao esforço.
Na outra ponta, o governo tem todo direito de ser contra a CPI. Mas que
deixe isso bem claro. Que deixe claro que não quer que sejam elucidados negócios
nebulosos como o que levou a refinaria de Pasadena a ser comprada por valor
quase 30 vezes maior do que valia poucos anos antes e como o que resultou num
gasto oito vezes maior na construção da Abreu e Lima, em Pernambuco. Ser contra
a CPI é ser a favor desta sangria.
À oposição interessa saber o que está acontecendo na Petrobras por uma
razão muito simples: é preciso defender este patrimônio nacional e impedir que
ele continue a ir para o ralo, como está acontecendo nos últimos anos, por
causa da má gestão que o PT impôs à estatal. Uma investigação congressual séria
visa estancar a destruição da Petrobras e preservá-la da predação que petistas
e seus aliados patrocinam na empresa. Quem for contra isso que não assine o
requerimento de criação da CPI e assuma que não quer salvar a Petrobras.
Se os governistas não veem razão para a apuração, a própria
presidente Dilma Rousseff fornece argumentos para investigar. Se ela mesma diz
que o conselho de administração da Petrobras foi instruído por pareceres falhos
e informações incompletas na tomada de decisões, em muitos casos bilionárias,
alguém errou e deve, numa gestão séria, responder por isso. Ou será que não?
Se não bastasse, Graça Foster, a presidente da companhia, também fornece
motivos para que a apuração aconteça. Em entrevista publicada hoje n’O Globo, a primeira depois do começo da atual crise, ela admite que o
tempo todo alguém que deveria saber de tudo, ou bastante, na Petrobras é surpreendido
com o que se passa lá dentro. Foi assim com Dilma; tem sido assim com Graça.
Havia, por exemplo, estruturas paralelas operando na empresa ao largo de
seus instrumentos institucionais de governança. É o caso de um “comitê de
proprietários” de Pasadena, no qual Paulo Roberto Costa, ex-diretor de
Abastecimento da companhia e ora preso pela Polícia Federal, era o
representante da Petrobras. Sem que ninguém – ou, pelo menos, Graça Foster –
soubesse.
Há, também, novas suspeita de superfaturamento na refinaria Abreu e Lima –
com aditivos contratuais que somam R$ 836 milhões e outros em negociação
atualmente que podem encarecer a obra em mais R$ 600 milhões, ainda segundo O Globo, com base em investigações do TCU. Em alguns casos, tais reajustes
baseiam-se em consumo de material três vezes maior do que o originalmente
orçado, como na compra de estruturas metálicas. Tudo isso Graça considera “surpreendente”.
Por que, então, não deixar o Congresso apurar?
Enquanto a CPI não chega, a oposição continua fazendo sua parte,
convocando e convidando envolvidos nos episódios nebulosos em que a Petrobras está
metida para prestar depoimento no Congresso. Isso, porém, não invalida, não
substituiu a necessidade de uma investigação mais profunda, estruturada,
metódica sobre o que aconteceu na maior estatal brasileira nestes últimos anos.
A CPI é uma oportunidade de pôr ordem numa história que hoje se encontra dispersa.
Os erros cometidos ao longo destes anos todos não são esparsos, não são
fortuitos, não são episódicos. São fruto de uma estratégia equivocada traçada
desde o governo Lula e mantida por Dilma. São capítulos de uma mesma história,
que está conduzindo a Petrobras a uma devastação impensável até pouco tempo
atrás. É todo o conjunto da obra que é ruinoso.
Os que querem ver uma empresa forte, um patrimônio nacional preservado,
uma companhia orientada a auxiliar o país a avançar também querem ver a Petrobras
livre dos cupins que lhe devoram as estruturas. Barrar a CPI e deixar tudo como
está é deixar os alicerces da companhia continuarem a ser carcomidos e esperar a
construção desabar. A quem, afinal, interessa transformar a Petrobras em
escombros?
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