A decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s de
rebaixar a nota de crédito do Brasil não se restringe apenas à evidente
deterioração das condições econômicas brasileiras. Corrobora a péssima
qualidade do conjunto da obra de um governo que mais prejudica do que ajuda o
país. Coroa uma temporada de equívocos. Atesta um rol de desacertos que só cresce,
dia após dia.
Aconteceu o que era esperado e a S&P anunciou,
no fim da tarde de ontem, que a nota de crédito soberano do Brasil foi reduzida
de “BBB” para “BBB-”, colocando-nos no mesmo barco de países em crise como a
Espanha. Por trás desta sopa de letrinhas, estão avaliações que balizam
negócios no mundo todo. O rebaixamento significa que crer no Brasil ficou um
pouco mais arriscado, e mais caro. Nossas perspectivas pioraram, goste-se das
agências de rating ou não.
A S&P citou a deterioração das contas públicas, o endividamento
ascendente e os prognósticos declinantes para o crescimento da nossa economia
como razões para a decisão – de resto, já esperada. Alguém há de contestar?
Noves fora o esperneio mais que previsto do governo, ninguém. Nem é preciso
agência internacional para verificar que as coisas no país não vão bem. Basta
olhar em volta.
Objetivamente, os dados são todos ruins. Sem sinais de melhora à vista, a
média de crescimento econômico é baixíssima, na lanterna dos países da América
do Sul – a Venezuela não conta... A inflação continua subindo, a despeito de
praticarmos as mais altas taxas de juros do mundo. Basta ir a uma feira para
perceber o quanto a comida está doendo no bolso.
O Brasil isola-se cada vez mais do resto do mundo, não consegue expandir a
exportação e aumenta o rombo nas contas externas. A dívida bruta – que não
esconde as maquiagens – é o dobro da média de países emergentes. Os gastos
correntes explodem, enquanto os investimentos necessários para destravar o país
não acontecem.
Há um nítido desalento em relação às perspectivas do Brasil. As decisões
econômicas são tomadas em bases frágeis, as opções são temerárias e o
compromisso público se vê subjugado às conveniências eleitorais. A impressão
que se tem é de uma volta a um passado de remendos, improvisos e imprevidências
que, imaginava-se, havia sido extirpado da vida nacional.
A gestão do país vive de manobra atrás de manobra. Se as previsões
oficiais não saem como previsto, remendam-se os números, fabrica-se alguma
solução de conveniência e torra-se mais uma montanha bilionária de dinheiro público.
Se é preciso algo mais palpável para dar materialidade ao desatino em
marcha, basta olhar o que acontece hoje com as empresas públicas em processo de
desmanche – tanto que as notas da Petrobras e da Eletrobrás também foram
rebaixadas ontem pela S&P – e a lambança no setor elétrico.
Ainda assim, o governo brasileiro considera “inconsistente” a decisão da
agência. O adjetivo é perfeito, mas para aquilo que a gestão petista está
cometendo aqui dentro. A avaliação da S&P é apenas uma percepção externa a
mais sobre o que os brasileiros assistem cotidianamente no país. Mais um degrau
de queda e passaremos à condição de economia especulativa. Não será surpresa se outras
agências importantes de rating – como a Fitch e a Moody’s – vierem na mesma
toada.
O Brasil foi rebaixado no mesmo momento em que economias concorrentes,
como o México, estão sendo promovidas. Falta-nos o que lá está sobrando: coragem
para fazer reformas que oxigenem a economia, reduzam o peso sufocante do Estado
e abram espaço para maior participação da iniciativa privada, com investimentos
que melhorem as condições de vida da população.
A erosão das condições econômicas do Brasil não é obra do acaso. Tem sido
construção lenta, segura e gradual. Desde 2008 é assim. A princípio, a política
de estímulo funcionou e evitou que o Brasil decaísse junto com os demais países
no rastro da crise global. A partir de então, contudo, tornou-se um instrumento
político que o PT tenta manejar para manter-se no comando do país. Deu certo em
2010, mas não tem como continuar dando certo agora.
Nestes últimos anos, acentuaram-se a maquiagem das contas, a depredação
do patrimônio público, a deterioração das perspectivas de desenvolvimento.
Junte-se a isso a evidente incapacidade exibida pela presidente Dilma Rousseff
para lidar com situações adversas, para bem gerir o país e dar-lhe o rumo
necessário para superar dificuldades. A piora é consistente e o conjunto da
obra merece a segunda divisão.
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