Durou pouco, muito
pouco, a fantasia de contas de luz baratinhas que o governo teceu desde fins de
2012 como manto para a campanha de Dilma Rousseff à reeleição. O modelo está
fazendo água por todos os cantos e demandando aportes bilionários, bancados por
contribuintes e consumidores. Em poucos meses, guiado pelas mãos da presidente,
o setor elétrico brasileiro foi à breca.
Ontem, a equipe
econômica anunciou um pacotaço que eleva a R$ 31 bilhões os custos gerados pelo
desequilíbrio criado no setor a partir da edição da malfadada medida provisória
579, em setembro de 2012. Como parte das medidas, o governo também antecipou
que vem mais aumento de imposto pela frente para bancar parte do rombo. E,
espertamente, jogou para depois das eleições o tarifaço que será necessário
para soerguer o setor de energia.
A partir de 2015, as
contas de luz deverão subir com mais força do que caíram. Segundo cálculos de
uma consultoria em energia publicados por O Globo, há um aumento de 24% já represado para ser repassado às tarifas
a partir do ano que vem. Parte disso (4,6%) já irá entrar nas contas de luz
deste ano, segundo a Aneel. Ou seja, tudo o que Dilma anunciou como uma “histórica
redução” nos preços da energia no país irá para o ralo rapidinho.
A crise energética é
fruto exclusivo de iniciativa tomada pela presidente Dilma estritamente sob prisma
eleitoral, a desastrada MP 579. Na ocasião, a presidente usou a data cívica mais
importante do país, o aniversário da Independência, para convocar rede nacional
de rádio e televisão e alardear a redução nas contas de luz. Será que agora
fará o mesmo para explicar aos cidadãos que a medida não deu certo e eles terão
de começar a pagar a conta já neste ano?
Desde a truculenta
intervenção, o setor elétrico, que vinha razoavelmente bem, tornou-se uma
colcha de retalhos, com remendos atrás de remendos e empresas antes sólidas
levadas à beira da falência. Em pouco mais de um ano, as concessionárias do
setor viram quase R$ 60 bilhões virarem fumaça. Suspenderam investimentos, demitiram
funcionários, vão devolver usinas e parar de gerar energia. Tudo em decorrência
de uma medida de caráter explicitamente eleitoreiro em favor de Dilma.
Pela operação anunciada
ontem, serão necessários mais R$ 12 bilhões para cobrir o rombo do setor
elétrico neste ano. Para aportar a parte do Tesouro (R$ 4 bilhões), o governo
vai apelar para a receita clássica: aumentar impostos. Com isso, irá se repetir
a sina da gestão petista em relação à carga tributária: para o alto e avante. Assim
foram nos quatro anos do governo da atual presidente e em sete dos últimos
oito anos.
O valor a ser
desembolsado pelo Tesouro se somará a outros R$ 9 bilhões já previstos para
2014 e irá se juntar aos quase R$ 10 bilhões despendidos com a mesma finalidade
no ano passado. Tudo somado, já são R$ 23 bilhões que o contribuinte brasileiro
terá que desembolsar em função do curto-circuito que Dilma criou, por
interesses exclusivamente eleitorais, no setor elétrico brasileiro.
A maior parte dos
recursos do pacotaço divulgado ontem (R$ 8 bilhões) será buscada no mercado
financeiro, por meio de empréstimos feitos por agentes privados – mais
especificamente a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, desde
ontem rebatizada “Contabilidade Criativa de Energia Elétrica”). A partir de
2015, portanto depois das eleições e devidamente acrescido de juros, o valor
financiado será incorporado às tarifas de energia pagas pelos consumidores – as
mesmas que foram transformadas por Dilma em bandeira eleitoral desde o ano
passado.
Não é certo que a engenharia
financeira dará certo: há mais de um ano, a CCEE tenta montar um sistema de
garantia financeira para operações do setor com bancos privados, mas, por causa
das dificuldades por que passam as empresas de energia no país, não consegue
convencê-los. Com isso, é de se prever que bancos públicos poderão ser novamente
(ab)usados na operação de financiamento.
Além disso, por meio de suas térmicas, a Petrobras
pode ser novamente usurpada para assegurar preços baixos nos leilões para
contratação de energia que completam a operação de salvamento lançada ontem
pelo governo – em dezembro, porém, fracassou tentativa semelhante de contratar
energia mais barata por meio de pregões.
A Folha de S.Paulo classificou toda a operação de “mais um malabarismo
intervencionista”, que “jogou para um futuro próximo – mas convenientemente
posterior às eleições – uma conta fiscal e inflacionária”. Para o Valor Econômico, trata-se de “uma estratégia arriscada”.
Nem todo o
malabarismo e nem todos os riscos assumidos serão suficientes, contudo, para
tapar todo o rombo que as concessionárias de energia deverão ter com a geração
e a compra de energia muito mais cara e escassa. As medidas tomadas pelo
governo abarcam apenas R$ 12 bilhões de um rombo que só neste ano deve beirar
R$ 20 bilhões. A conta dos desequilíbrios pode, portanto, subir ainda mais.
O pacotaço também
representa uma confissão oficial de que o suprimento de energia está no fio da
navalha. Segundo a consultoria PSR,
o risco de racionamento de energia no Brasil continua aumentando e já chegou a
24%. As medidas anunciadas ontem são, ainda, uma admissão tácita de que o
modelo energético que tem em Dilma Rousseff seu artífice e maior responsável
naufraga a olhos vistos – em breve, quiçá, à luz de velas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário