Numa democracia
sólida, como é o caso da brasileira, decisão da Justiça não se contesta; respeita-se
e cumpre-se. Fica, porém, a sensação de que céu e Terra foram movidos para
livrar a cara dos mensaleiros de parte dos crimes que cometeram, segundo votação
concluída ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão de ontem
reduz a pena dos oito presos anteriormente condenados por formação de
quadrilha. Em nova votação, já com a manifestação dos novos ministros nomeados
no decorrer do julgamento no ano passado, considerou-se que tal crime não
esteve presente na urdidura que desviou milhões de reais dos cofres públicos.
Houve “apenas” crimes cometidos em coautoria.
Os maiores
beneficiados são próceres petistas: José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.
Se não houve quadrilha, como o STF decidiu na votação de embargos infringentes
concluída nesta semana, as penas diminuem e, com isso, também a forma de
cumpri-las, que passa a ser agora em regime semiaberto. Nos demais cinco casos,
envolvendo Marcos Valério e os núcleos publicitário e financeiro dos
mensaleiros, as penas diminuem, mas o regime de prisão continua fechado.
Como terá agora de
cumprir apenas 7 anos e 11 meses de cadeia, quase três anos menos, José Dirceu
poderá deixar o presídio da Papuda, onde está desde novembro do ano passado, em
março de 2015. Genoino já está em prisão domiciliar, mas terá 2 anos e 3 meses
menos a cumprir. Delúbio, cuja condenação agora caiu para 6 anos e 8 meses,
pode se ver livre da cadeia em dezembro próximo.
O alívio dado aos
mensaleiros só foi possível porque os novos ministros indicados pela presidente
Dilma Rousseff no decorrer do julgamento do mensalão manifestaram-se ontem de
forma distinta de seus antecessores. Votaram favoravelmente aos mensaleiros,
como se temia desde o dia em que Luís Roberto Barros e Teori Zavascki foram
nomeados para o STF nas vagas de Cesar Peluzo e Carlos Ayres de Britto.
Terão sido as
suspeitas infundadas? Não dá para responder. Mas não há dúvida de que permanecerá
no ar a desconfiança, a suposição, a conjectura de que os novatos da Suprema
Corte ingressaram no time com a missão de modificar o resultado de um jogo que
já se encerrara. Infelizmente.
Nada muda, porém, o cômputo
final do julgamento do maior esquema de corrupção de que se tem notícia na
história política do país. Nada altera a conclusão, proferida pela mais alta
corte de Justiça do país, depois de meses de discussões, debates e votações, de
que o mensalão existiu, foi montado pelo PT, corrompeu parlamentares e
objetivou dar sustentação política ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
O DNA dos malfeitos
petistas, aliás, continua se manifestando. Ontem, a Justiça Federal abriu
processo criminal contra 18 acusados na Operação Porto Seguro, em que a Polícia
Federal investigou e desbaratou esquema de venda de pareceres em órgãos do
governo federal, revelado em fins de 2012.
A acusação pega Rosemary
Noronha, ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, e seus “bebês”,
suspeitos de envolvimento em crimes de corrupção, tráfico de influência,
formação de quadrilha e falsidade ideológica. Segundo o juiz que determinou a
abertura do processo, a relação entre eles era “espúria”.
Como se pode ver, os
petistas ainda têm muito a esclarecer perante a Justiça brasileira. Por mais
que tentem transformar em farsa o que é história, ainda têm muito a pagar pelos
crimes que cometeram – e continuam cometendo – contra o país. O fim do julgamento
do mensalão é só o começo.
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