O Congresso deu
mostra ontem do que é capaz, quando funciona livre de amarras. A Câmara dos
Deputados votou e aprovou proposta importante para a fiscalização de malfeitos e
para o aperfeiçoamento das instituições públicas. Fez o que do Parlamento se
espera, mas o governo petista insiste em tentar impedir: legislar, pura e
simplesmente.
Por ampla maioria,
foi aprovada a criação de uma comissão externa para investigar a suspeita de
que funcionários da Petrobras tenham recebido propina de uma empresa holandesa que
aluga plataformas flutuantes para a estatal, a SBM Offshore. A proposta foi apresentada
pelo PSDB, por intermédio do líder da minoria, deputado Domingos Sávio (MG).
É do interesse da
sociedade brasileira saber se a maior empresa estatal do país está envolvida em
negócios escusos que podem ter lesado o patrimônio público. A suspeita é de que
a empresa holandesa tenha incorrido em “práticas comerciais impróprias” e tenha pago
propina, que pode ter chegado a US$ 139 milhões, a funcionários da Petrobras.
Esta é a parte de
mérito que interessa na votação realizada ontem em Brasília. Mas há, também, seus
ainda mais evidentes efeitos políticos. A proposta tucana – que também já rendeu
pedido de investigação protocolado pelo PSDB junto à Procuradoria Geral da
República, ontem encaminhado ao Ministério Público Federal do Rio – obteve apoio
maciço de partidos até outro dia fielmente alinhados ao governo.
Votaram em peso pela
criação da comissão o PMDB, com 58 votos dos 61 deputados presentes na Câmara;
o PR, com 23 de 25; o PTB, com o voto favorável de todos os 16 trabalhistas que
estavam ontem no plenário; e o PSC, com voto unânime dos seus nove parlamentares
presentes. PP, Pros e PDT também apoiaram. No total, a proposta foi aprovada
por 267 votos a favor e 28 contrários.
O resultado é sinal mais
do que evidente do esgarçamento da aliança em torno de Dilma Rousseff. O resultado
aconteceu a despeito de a presidente da República ter gastado horas e horas de
conversas com líderes pemedebistas nos últimos dois dias e, ainda, ter
despachado alguns de seus principais ministros para negociar balcões de vantagens
no Congresso. Fracasso total.
“O que une esta
maioria que apareceu no placar eletrônico é a rejeição à ação autoritária da presidente
Dilma e, sobretudo, ao projeto de hegemonia do PT, de longo prazo e com
objetivos claros de não precisar de apoios para governar o país”, analisa
Merval Pereira na edição d’O Globo de hoje.
O Congresso está lotado
de temas importantes à espera de decisão. No entanto, nosso Legislativo vive
soterrado por projetos do Executivo, enviados a toque de caixa em regime de
urgência constitucional, e por medidas provisórias que atravancam a pauta –
neste momento, há nada menos que 13 tramitando na Câmara e no Senado, das quais nove
editadas durante o recesso parlamentar de início de ano.
Infelizmente, porém,
a gestão petista considera que o Parlamento deve ser mero carimbador das
vontades do governante de turno e busca subjugá-lo na base do toma-lá-dá-cá. Tanto
que, ontem, em vias de ver-se derrotado na votação da proposta para investigar
as suspeitas sobre a Petrobras, o Planalto mandou avisar que “iria fazer um
pente-fino na lista dos deputados que poderiam votar contra o governo e ‘cortar
cargos’”, conforme informa a Folha de S.Paulo.
Estes não são os
modos que devem nortear a convivência entre poderes de uma república. Mas é
assim que o PT entende que devem ser: sempre os subordinando aos interesses e às
conveniências de seu projeto de poder. É excelente e salutar para a sociedade
que o Legislativo aja com a independência que lhe atribui a nossa Constituição
e faça valer suas prerrogativas. A lista de iniciativas a tomar é longa e só
está começando: há muito a apurar.
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