sábado, 2 de junho de 2012

O PIB com o pé no freio

A economia brasileira começou o ano com pé no freio. No primeiro trimestre, o PIB cresceu apenas decepcionante 0,2% sobre o trimestre anterior, informou o IBGE nesta manhã. Repete-se o que tem sido uma sina no governo Dilma Rousseff: mais uma vez, as esperanças estão depositadas num futuro que, infelizmente, nunca chega.

Na taxa acumulada nos últimos 12 meses, o PIB cresceu apenas 1,9%. Para se ter ideia do que isso significa, há um ano a economia brasileira rodava à velocidade de 6,3% anuais. Desde então, foi decaindo progressivamente até chegar agora a menos de um terço do que era.

Nesta toada, até os 2,7% do pibinho de 2011 começam a parecer uma miragem para este ano. Segundo a LCA Consultores, ouvida pelo blog Casa das Caldeiras, do Valor Econômico, para crescer 3% em 2012, o PIB precisaria avançar 7% ao ano, na média, de agora até o fim do ano. Não parece nem um pouco crível.

Os resultados do IBGE vieram recheados de más notícias – vale destacar que apenas as previsões mais pessimistas esperam um valor tão baixo quanto 0,2% no trimestre. A agricultura conseguiu sair-se pior que a indústria e foi o setor com maior queda: 7,3% sobre o trimestre anterior.

Na mesma base de comparação, os investimentos também caíram 1,8%. Por esta ótica, apenas o consumo, tanto o do governo quanto o das famílias, cresceu. A taxa de poupança caiu de 19,5% do PIB no primeiro trimestre de 2011 para 18,7% agora.

No trimestre, o Brasil saiu-se pior que os Brics, que economias mais maduras como EUA, Japão e Alemanha e também em relação a alguns países vizinhos, como Chile e México. Só ganhamos de algumas das economias mais problemáticas do mundo hoje, como Espanha, Portugal e Itália, mostrou a Agência Estado.

As perspectivas para o segundo trimestre também não são boas, a considerar os primeiros resultados já conhecidos para abril. É o caso, por exemplo, da produção industrial, em movimento definitivamente ladeira abaixo. Ontem, o IBGE havia mostrado que o setor encolheu 2,9% em abril na comparação com mesmo mês de 2011.

Curiosamente, no cômputo do PIB a indústria foi a de melhor desempenho, com alta de 1,7% sobre o trimestre anterior. Uma das explicações seria o peso da construção nas contas nacionais, diferentemente da sua participação na produção industrial pesquisada pelo IBGE, mais calcada nos setores de transformação.

Com todo este desalento, o único que não demostra preocupação em relação ao comportamento geral da economia é justamente quem mais deveria estar incomodado com o ritmo decepcionante: o ministro da Fazenda. Em mais uma de suas previsões alienadas, Guido Mantega disse hoje pela manhã que ainda espera uma alta de até 4,5% no ano. Só pode estar faltando seriedade.

Observe-se o desempenho de segmentos que ajudam a antever comportamentos futuros da economia, como os bens de capital – isto é, maquinário usado pelos demais elos da cadeia para expandir a produção. Eles exibem queda de quase 10% no ano até abril. A produção de bens duráveis – como carros, eletrodomésticos e celulares, por exemplo – também cai na mesma proporção.

Por todos estes sinais, não restam dúvidas de que os impulsos que o governo vem dando à economia não estão surtindo efeito. Há um problema crônico, que já vem de longa data, mas que não tem obtido atenção oficial adequada: a repetida baixa da produtividade industrial. Entre 2000 e 2009, a queda foi de 0,9% ao ano. As condições de competitividade como um todo também mantêm-se sofríveis.

O governo já tentou de tudo para “levantar” o PIB – usando uma acepção cara a Mantega. Incentivos esparsos e fragmentados à indústria, por meio da edição de sete pacotes desde 2008. Desonerações tributárias a conta-gotas, concedidas a quem dispõe de mais poder de pressão sobre Brasília, além da imposição de barreiras comerciais que transformaram o Brasil no campeão mundial do protecionismo – como mostra hoje O Estado de S.Paulo.

Entretanto, aquilo que cabe estritamente ao governo, ele não faz: pôr em marcha um programa ousado de investimentos públicos que melhore a competitividade do país e destrave o ímpeto empreendedor privado. Não há rigorosamente nada sendo executado hoje a contento pelo poder público federal. Na realidade, os investimentos estão em queda: -3,5% até abril, como informou o Tesouro Nacional anteontem.

Com os números conhecidos hoje, vão se confirmando as previsões mais sombrias para o país neste ano. Caminhamos para o segundo ano de naufrágio do governo Dilma. É um filme que se repete, e que ninguém gostaria de assistir de novo. Seria bom a presidente rever, urgentemente, o rumo que tem dado à gestão da economia. Parece evidente que o atual não está dando certo.

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