Neste fim de semana,
o BIS, uma espécie de banco central dos bancos centrais do mundo, divulgou
documento em que alerta para o excesso do crescimento do crédito no Brasil e em
outros países emergentes, como China, Índia e Turquia.
Para a instituição,
sediada na Basiléia, o risco de descontrole é iminente. Os banqueiros enxergam “desaceleração
acentuada” na economia brasileira e, pior, a ameaça de que aqui se repita o
estouro de crédito verificado nos EUA há quatro anos e que agora também arrasta
a Europa para o buraco.
O BIS fez as contas e
concluiu que, nos últimos três anos, o crédito no país cresceu 13,52 pontos
percentuais acima do PIB brasileiro. Em outros momentos, uma arrancada desta
magnitude no volume de empréstimos, descolando-se do resto da economia, redundou
em ondas de quebradeira. Tomara que não seja o caso desta vez.
No entanto, o nível
de endividamento – medido pela proporção do PIB que as famílias destinam ao
serviço da dívida – já é tão alto no país quando em fins dos anos 1990. Sem
contar financiamentos feitos via crediários em lojas, que não são
contabilizados pelo Banco Central, o comprometimento mensal da renda das
famílias brasileiras atingiu 22%. Para se ter ideia, quando a crise das
hipotecas foi detonada nos EUA este percentual estava em 16% por lá.
Segundo números da Serasa
Experian, a inadimplência do consumidor pessoa física subiu 21% nos últimos
12 meses, na série sem ajuste sazonal. A provisão que os bancos têm de fazer
para créditos podres, isto é, aqueles em que o devedor está com o pagamento da dívida
atrasado há mais de 180 dias, aumentou 24% até abril.
A situação dos
endividados é tão preocupante que os credores estão oferecendo condições
especiais para tentar rever o dinheiro emprestado. Segundo O
Globo, está em marcha em bancos, financeiras, varejistas e operadoras
de cartão de crédito um movimento que só encontra precedentes na época do Plano
Collor, quando o Brasil mergulhou numa de suas mais severas crises.
Mesmo com condições
facilitadas, a inadimplência não cede. “Diferentemente da crise iniciada em
2008, em que a inadimplência foi causada por uma abrupta escassez de crédito na
economia e depois caiu rapidamente quando o fluxo financeiro retornou, o novo
patamar de calote foi causado pela expansão, por vezes desordenada, do crédito”,
avalia o jornal.
Muitos destes novos
devedores entraram no mercado de crédito recentemente, incentivados pelo
governo federal. Uma parte deste contingente simplesmente não tinha condições
de tomar empréstimos, e agora se vê com a corda no pescoço – o mercado de automóveis
é onde isso fica mais evidente, com as taxas de calote no nível mais alto desde
2000.
Os alertas quanto
aos riscos da escalada do crédito e da inadimplência vêm sendo feitos já há
algum tempo. Mas a reação do governo federal veio sempre na direção contrária:
botar mais lenha na fogueira do consumo, incentivar o endividamento das famílias
e postergar medidas realmente necessárias, como o estímulo ao investimento.
Constata-se, agora,
que a “marolinha” que arrebenta as praias do mundo desenvolvido há quase quatro
anos, também atinge o Brasil – ainda que, felizmente, em menor grau, por ora. Resta
ao governo Dilma Rousseff acordar para a gravidade do problema e deixar de
insistir numa estratégia esgotada. E torcer para que o pessoal que cuida da
dinheirama no mundo esteja equivocado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário