Depois de meses de
negociações, os 193 países envolvidos na Rio+20 ainda estão longe de se
aproximar de um consenso. Há mais conflito do que acordo, mais controvérsias do
que convergências. Apenas questões paralelas obtêm a aprovação unânime exigida
pela ONU em seu processo decisório.
Foi neste ambiente
que o Brasil, como país-sede da conferência, assumiu a condução do processo
negociador na semana passada. A expectativa era de que a diplomacia brasileira
desempenhasse uma postura de liderança e conseguisse destravar alguns impasses.
Mas bastaram algumas horas para que a frustração prevalecesse.
A proposta apresentada
neste fim de semana pelo Itamaraty mostra-se tímida demais para a urgência que a
falta de perspectivas de desenvolvimento sustentável para o mundo tal como hoje
estão os padrões de produção e consumo exige.
Foram retirados do
texto menções à criação de fundos para financiar práticas mais sustentáveis,
que desagradavam o grupo de nações mais ricas e atualmente mergulhadas em crise
econômica. Vale lembrar que a Rio+20 começara com estardalhaço trazendo a perspectiva
de adoção imediata de um fundo de US$ 30 bilhões, que agora virou fumaça.
A definição de metas
e objetivos de desenvolvimento sustentável também foi jogada para frente, mais
precisamente para 2015. Questões cruciais como o fim de subsídios a combustíveis
fósseis foram igualmente excluídas da nova versão apresentada pelos diplomatas
brasileiros.
A reação veio imediata,
tanto de parte dos negociadores quanto de entidades da sociedade civil. A proposta
brasileira mereceu ampla desaprovação. Com ela, a diplomacia de Dilma Rousseff ganhou
até prêmio das entidades ambientalistas: o de “fóssil do dia”.
A Climate Action, rede
internacional que congrega mais de 700 organizações
não governamentais que lutam pela sustentabilidade, considerou que “o
Brasil está perdendo a chance de ser uma força frente às
ambições crescentes, à esperança e à confiança que o mundo
depositou em seus ombros”.
O Greenpeace foi
mais longe e colocou os negociadores brasileiros na posição de arautos do apocalipse.
“Se adotado por completo, o texto (...) condenaria o mundo a um futuro de
poluição, destruição e fraude”. Vai mal a liderança brasileira...
O descontentamento não
foi apenas de radicais ambientalistas. Está também na comitiva europeia, por
exemplo. Mesmo o continente atualmente mais prejudicado pela debacle econômica
gostaria de ver mais ousadia no Brasil. “O texto não tem a
ambição necessária, sobretudo no que diz respeito ao
desenvolvimento sustentável e à economia verde”, avaliou Janez Potocnik, comissário
da União Europeia para o Meio Ambiente.
Palavras e verbos polêmicos
foram substituídos por termos mais amenos pelos negociadores brasileiros. A
estratégia poderia ser ferramenta útil para transpor impasses, mas de tão exacerbada
acabou por transformar a proposta alternativa apresentada pelo Itamaraty numa
saída anódina e, pior, num mau caminho rumo a um necessário mundo mais sustentável.
Na realidade, a
comunidade diplomática internacional está sendo apresentada a uma velha prática
das gestões do PT: a de sempre deixar para amanhã decisões cruciais para o
destino do país, apostando que a maré pode virar por conta própria. Trata-se de
uma onipresente e prejudicial lei do menor esforço vigente entre os petistas.
Não é preciso procurar
muito para ver paralelos entre a diplomacia protelatória que o Itamaraty pôs em
marcha na Rio+20 e as delongas que marcam as decisões – ou melhor, a falta
delas – no governo Dilma, assim como já ocorria na era Lula. Aqui, jogar a
solução de um problema para frente tornou-se o esporte preferido da administração
federal. Agora, contudo, o que está sendo colocado em xeque não é apenas o futuro
do Brasil, e sim o de todo o planeta.
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