Vale recordar que,
até bem pouco tempo atrás, a presidente da República propagandeava aos quatro ventos
que a economia brasileira aceleraria neste ano. Dilma não falava sozinha: seu
ministro da Fazenda apostava ainda mais alto e previu, durante muito tempo, crescimento
de 5% em 2012. Era só bravata ou foi má-fé mesmo?
De repente,
sorrateiramente, o discurso róseo do governo foi sendo deixado de lado. As projeções
fantasiosas de dias atrás foram sendo abandonadas, sem, contudo, merecer qualquer
explicação oficial do governo petista ao distinto público.
A portas fechadas,
em encontro com governadores na semana passada, a presidente Dilma disse não enxergar
“luz no fim do túnel” para a crise europeia. Foi uma forma de dizer que, por
aqui, a escuridão também deve prevalecer. Por que ela não vem a público
manifestar-se com o mesmo realismo?
Já se dá de barato
que o desempenho da economia brasileira neste ano deverá ficar aquém até mesmo
dos 2,7% do pibinho de 2011. No boletim Focus
divulgado ontem pelo Banco Central, os prognósticos despencaram. A previsão
prevalecente entre analistas financeiros agora é de que o nosso PIB crescerá apenas
2,3% em 2012.
A deterioração nas
expectativas foi rápida, e implacável: as projeções caíram quase um ponto
percentual em pouco mais de um mês, algo incomum neste ambiente. Não há dúvida de que
a onda virou. E o pior é que o chamado “mercado” não é muito costumeiro em acertar
prognósticos de PIB; quase sempre erra para mais.
Não são apenas as
projeções que azedaram. A economia real continua amarga no segundo trimestre: de
acordo com a prévia do PIB divulgada pelo BC na sexta-feira, em maio a economia
caiu 0,02% sobre o mesmo mês de 2011, na primeira queda neste tipo de
comparação desde setembro de 2009. No acumulado em 12 meses, o crescimento é de
1,65%.
Ocorre que o governo
brasileiro apostou alto numa única estratégia: a do aumento do consumo,
parecendo julgar que a curva ascendente verificada nos últimos anos poderia
perdurar para sempre. Descuidou, neste ínterim, de incentivar os investimentos
e os empreendimentos privados, apesar de toda a fama de boa gerente de que a presidente
gozava.
Com as vendas no comércio
já refluindo, o governo simplesmente ignorou – ou será que desconhecia? – que o
consumidor tem limites para se endividar. Estrilou quando a federação que
representa os bancos fez um alerta nesta direção, mostrando que não bastaria os
juros baixarem na marra, se o tomador não quer beber da água da dívida.
Erros acontecem. O que
não se admite é a insistência neles, a despeito de todos os alertas em contrário.
Não é de hoje que o governo vem sendo criticado pelo seu samba de uma nota só
na economia, o do incentivo ao consumo desenfreado – e justamente no momento em
que o mundo todo discute como tornar o planeta mais sustentável e menos agredido
pelos excessos.
Não é de hoje também
que se pede mais celeridade para destravar investimentos privados, concessões,
parcerias público-privadas no país. Mas, aos apelos, novamente a gestão petista
responde com promessas tardias, voltadas agora a incitar o “espírito animal” do
empresariado – apenas, porém, no ano que vem, porque neste Inês já é morta.
Em dezembro, Mantega
falava que havíamos batido “no
fundo do poço” e começaríamos a decolar. Meses depois, afirmou
que “ter 2,7% como piso de crescimento tá é muito bom”. Em ambos os casos errou
feio, mas nem na primeira nem na segunda ocasião foi desautorizado pela
presidente. Caberia agora a ambos justificar por que alcançar o pibinho de 2011
tornou-se tarefa impossível.
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