O documento-base a ser
referendado pelos chefes de Estado a partir de hoje não contempla boa parte dos
temas e propostas que poderiam representar avanços e novos compromissos dos signatários
em prol do desenvolvimento sustentável. As expectativas positivas que cercavam
a Rio+20 se frustraram.
No texto, não há definição
de objetivos e metas; não há fontes de recursos estipuladas; não subsistem instituições
com força capaz de enquadrar as nações do planeta. Há apenas princípios
genéricos, reafirmações de intenções firmadas há 20 anos e rigorosamente nada
mais. No bom e velho diplomatiquês, há muito “consideramos” e pouco “decidimos”.
A diplomacia
brasileira se deu por satisfeita com o simples fato de não ter havido
retrocessos. Lutou a todo o custo para fechar um texto que evitasse o fracasso
absoluto, isto é, a Rio+20 acabar sem documento algum. Entre o nada e o
desejável, parou nas platitudes.
“Decisões concretas,
com metas e objetivos, não saíram do Riocentro”, resumiu o Valor
Econômico. O documento final é “muito mais fraco do que se poderia
esperar”, decretou O
Globo. É significativo que o Brasil tenha sido o único país a comemorar
abertamente o resultado das negociações da Rio+20, como mostrou O
Estado de S.Paulo.
A solução costurada pelo
Brasil é muito tímida diante da necessidade premente de que se construam avanços
globais rumo a formas sustentáveis e menos agressivas de desenvolvimento. É ainda
mais frustrante diante do protagonismo que se esperava da nação que guarda a
maior reserva de biodiversidade do mundo.
O resultado formal da
Rio+20 é uma decepção e o documento que o Itamaraty fez aprovar ontem é apenas
uma manifestação disso. Textos diplomáticos são sempre enfadonhos e
rocambolescos. Mas a declaração final da conferência é ainda mais lamentável pelo
que demonstra de falta de ousadia, de imprecisão e de incerteza quanto aos objetivos
que se deve perseguir rumo ao desenvolvimento sustentável.
Na busca do
consenso, o Brasil optou por afastar os pontos de conflito – justamente os que representavam
alguma esperança de avanços e novas conquistas. Nossa diplomacia optou por empurrar
para um futuro incerto o enfrentamento dos problemas, deixados a cargo de
grupos de trabalho que nunca se sabe bem aonde conseguirão chegar.
Apenas reiterar rumos
que foram traçados na Eco-92, como se limitou a fazer o Brasil, é muito pouco,
uma vez que já há um razoável consenso em torno da necessidade de agir para
assegurar um desenvolvimento sustentável doravante. Desperdiçar a disposição demonstrada
pelos vários tipos de atores para assumir compromissos imediatos poderá
mostrar-se uma falha imperdoável.
Apesar dos
ecocéticos de sempre, entidades civis, academia, investidores e empresas deixaram
claro nas centenas de discussões havidas nos últimos dias no Rio que é preciso modificar
a forma como lidamos com os recursos naturais. Sem isso, ficará difícil, para
não dizer impossível, manter os padrões atuais de produção e consumo e até
mesmo garantir a disponibilidade de alimentos.
Se as coisas continuarem
caminhando tal como são hoje, a consequência será a escassez e, com ela, a
escalada de custos. Numa situação assim, quem mais perderá serão justamente os
mais pobres. Por isso, era tão desejável que houvesse na Rio+20 um sinal de que
os exageros e equívocos do passado não continuarão a se repetir.
Em resumo, saímos da
Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável menores do que
entramos, com perspectivas menos animadoras. Sob a batuta do Brasil, as nações
mostraram-se muito aquém do que delas espera a sociedade civil. Para nossa sorte,
independentemente da tibieza da diplomacia, empresas, organizações não
governamentais e pesquisadores já estão agindo para mudar o planeta.
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