Em 1° de agosto,
desde já uma data histórica para o país, o STF começará a julgar o caso. Com o
cronograma previsto, por volta de fins de setembro as sessões do julgamento terão
terminado e o Brasil terá, enfim, passado o episódio a limpo, condenando quem
merece a pagar pelo que fez e livrando quem nada deve.
Algo simples assim, pelo
menos em democracias, está sendo tratado pelo PT quase como um golpe de Estado.
É a velha dificuldade que os partidários de Lula, Dilma Rousseff e José Dirceu
têm de conviver com o contraditório, dentro dos estritos marcos legais de um Estado
democrático de Direito.
O primeiro a
espernear foi o secretário de comunicação petista. “Infelizmente, as ações do
Supremo não são cercadas da austeridade exigida para uma Corte Suprema”, disse o
deputado André Vargas na quinta-feira a O
Globo.
No sábado, foi a vez
do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos – o mesmo que, por R$ 15 milhões, defende o
contraventor Carlos Cachoeira, envolvido em grosso desvio de dinheiro público no
submundo da política. Em entrevista à BandNews, o advogado disse
que a imprensa “tomou partido” contra os réus do mensalão.
Mas quem foi mais
longe na afronta a um dos poderes da República foi, como sempre, o ex-ministro
e deputado cassado José Dirceu. O chefe da “sofisticada organização criminosa”
denunciada pelo Ministério Público Federal conclamou os militantes da UNE a ir para
as ruas defendê-lo.
“Todos sabem que
este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas
ruas também porque se não a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a
condenação. Eu preciso do apoio de vocês”, discursou Dirceu, conforme registrou
O
Globo Online na noite de sábado.
Dirceu é o mesmo
que, nos idos dos anos 1990, incitou grevistas de escolas de São Paulo a fazer
os governantes tucanos do estado “apanhar nas ruas e nas urnas”. Como se vê, os
métodos truculentos continuam os mesmos, só os aliados da hora é que mudaram.
Os domesticados
militantes da UNE, outrora protagonista de importantes ações em defesa da
democracia e do Estado de Direito no país, agora precisam se ocupar em explicar
como gastam em farra e bebedeira dinheiro público repassado para capacitação de
estudantes e promoção de eventos culturais e esportivos.
Investigação feita
pelo Ministério Público aponta irregularidades em convênios do governo federal
com a UNE e a União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES) de São Paulo,
que receberam R$ 12 milhões da União entre 2006 e 2010 e usaram notas frias
para comprovar os gastos. São aliados desta natureza que Dirceu espera ter na
sua “batalha” pela absolvição no Supremo.
“Ao analisar as
prestações de contas do convênio do Ministério da Cultura com a UNE para apoio
ao projeto Atividades de Cultura e Arte da UNE, o procurador [Marinus] Marsico
constatou gastos com a compra de cerveja, vinho, cachaça, uísque e vodca,
compra de búzios, velas, celular, freezer, ventilador e tanquinho, pagamento de
faturas de energia elétrica, dedetização da sede da entidade, limpeza de
cisterna e impressão do jornal da UNE. Além disso, encontrou diversas notas
emitidas por bares”, mostrou O
Globo na sexta-feira.
O escândalo do
mensalão foi conhecido há sete anos e há cinco a denúncia foi apresentada ao
Supremo. Neste ínterim, o então presidente Lula – que hoje diz que tudo não
passa de uma “farsa” – chegou a pedir desculpas pelo malfeito. Já passa da hora
de julgar o caso, algo que os ministros têm plena condição de fazer dentro dos estritos
cânones do Direito.
O país só tem a
perder com maiores delongas. Basta ver o que está acontecendo, novamente, no
Banco do Nordeste. Lá, o mesmo grupo de petistas mensaleiros envolvido no folclórico
episódio dos dólares escondidos na cueca está de novo enredado em escândalos e
desvios de dinheiro público, como mostrou a edição da revista Época desta semana.
A reação irada de
gente como José Dirceu à decisão do Supremo – tomada, aliás, por unanimidade pelos
ministros da corte – deixa claro o horror que o PT tem do acerto de contas que
terá de fazer com a sociedade brasileira por ter alimentado, durante anos, o
maior duto de desvio de dinheiro público da história do país e que até hoje
serve de inspiração para malfeitores ao redor do Brasil.
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