É importante que encontros
desta natureza gerem comprometimentos formais por parte dos participantes. São estas
as poucas oportunidades de se obter, de fato, a aderência de um largo número de
nações a uma orientação comum. Na Eco-92, por exemplo, logrou-se alcançar uma
declaração com compromissos globais de combate ao desmatamento e ao aquecimento.
Houve então, portanto, avanços.
No caso da Rio+20, o
rascunho da declaração nasceu com menos de 20 páginas, pulou para quase 200 e segue
por aí, indicando as dificuldades dos negociadores de focar as discussões. De
todo o texto, apenas cerca de 20% obtiveram
consenso entre os países-signatários até agora. Tudo o mais ainda é passível de
debate, o que permite concluir que dificilmente a cúpula que começa na próxima semana
conseguirá produzir um documento à altura das necessidades do planeta.
“A conferência não
produzirá tratados marcantes como as convenções sobre mudança do clima e
biodiversidade adotadas na Eco-92, duas décadas atrás. O documento final será
provavelmente uma declaração anódina sobre economia verde, mais um slogan que
preocupação real de governos e empresas”, previu a Folha de S.Paulo em editorial no domingo.
O esforço dos países
– e, em especial, dos anfitriões brasileiros – em direção a um novo acordo em
torno do desenvolvimento sustentável deveria ser ainda maior depois que se
tornaram conhecidas as conclusões
do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sobre o desenrolar
das metas ambientais estipuladas nos últimos 40 anos.
Constatou-se um
fracasso quase absoluto. Das 90 metas ambientais estabelecidas pela comunidade
internacional em 1972, ano do primeiro grande encontro mundial sobre o tema, apenas
quatro registraram avanços significativos. Em outras 24, o mundo estagnou e, em
14, o cumprimento dos objetivos sequer pôde ser medido, por falta de informações.
Para piorar, oito
metas apresentaram retrocessos – entre os mais dramáticos está o aumento da
poluição do ar, responsável, diretamente, por 6 milhões de mortes prematuras
por ano. O mundo também andou para trás em objetivos relacionados a mudanças
climáticas, desertificação, seca e manutenção dos recifes de coral no mundo.
Não apenas como
anfitrião, mas também pelo potencial ímpar de que dispõe, o Brasil poderia liderar
as discussões rumo ao desenvolvimento global sustentável. Mas o que menos se
viu nos últimos meses foi algum protagonismo do governo Dilma Rousseff no
debate e na preparação da Rio+20.
A esta altura, os anfitriões
parecem se dar por satisfeitos se a conferência não descambar para problemas de
logística e organização. A preocupação é tamanha que a própria presidente se lançou
na microgestão da cúpula, num claro sinal de que lidera uma equipe com
evidentes deficiências de desempenho.
“Dilma supervisiona
pessoalmente a estrutura da conferência e chegou até a analisar o mapa de
chegada dos chefes de Estado, calculando com a caneta o tempo de aterrissagem
para evitar que os voos se sobrepusessem e tumultuassem a chegada de delegações
estrangeiras”, relatou a Folha
na segunda-feira. Não tem como funcionar.
O descompasso e as
dificuldades em lidar com a Rio+20 talvez possam ser explicadas pela postura da
presidente e sua renitente adesão aos princípios da sustentabilidade. Desde que
assumiu o Ministério de Minas e Energia, e depois como ministra da Casa Civil, ela
sempre optou por confrontar os valores do conservacionismo. E assim se mantém.
Seu governo adota
como lema “crescer, incluir e conservar”, deixando clara qual é a ordem de suas
prioridades. Não é de hoje que Dilma flerta com posturas antagônicas ao que propugnam
os novos tempos de defesa do patrimônio ambiental e do desenvolvimento mundial
sustentável. Em linha com seu temperamento, continua a agir como trator. Apresenta-se,
portanto, como a pior líder com que a Rio+20 poderia contar.
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