Num momento em que o
futuro do planeta aponta para uma economia de baixo carbono, o Brasil se
apresentará como país em que a produção de carros movidos a gasolina é mais
incentivada que a de modelos elétricos; onde etanol paga tanto ou mais tributo que
combustível fóssil; e onde a geração de energia baseia-se cada vez mais em fontes
sujas.
Parece, contudo, que a nossa
ministra de Meio Ambiente não vê problema algum nisso. Izabella Teixeira considera
que as recentes medidas de incentivo ao consumo, inclusive de carros, anunciadas
pelo governo Dilma Rousseff não colidem com metas sustentáveis de longo prazo que
as nações de todo o mundo tentarão traçar na Rio+20.
Segundo ela, pôr
mais carro para circular é algo salutar: “Temos empregos e a indústria está em
jogo”, afirmou a ministra em debate no Rio, segundo O
Estado de S.Paulo. “Tem limite para a miopia ambiental. (...) Temos de
debater como gente grande. Vamos acabar com o achismo ambiental.” Na realidade,
a miopia – ou seja, a incapacidade de enxergar longe – parece acometer é o
governo brasileiro.
Não só no curto
prazo, mas também em estratégias de horizonte mais longo, o Brasil tem trilhado
caminhos ambientalmente equivocados, de alcance meramente imediatista. Sob a ótica da sustentabilidade, o país
que tem uma das melhores condições de desenvolver uma economia verde, com a produção
agropecuária se expandindo sem devastar o meio ambiente, tem adotado políticas condenáveis
nos últimos anos.
É o que acontece,
por exemplo, no setor de combustíveis. Uma estratégia caolha de contenção da
inflação transformou o Brasil de antigo maior produtor mundial de etanol em importador
do produto – vindo dos EUA – e grande consumidor de gasolina. Na contramão do
mundo, a política oficial, seja por meio do congelamento de preços da
Petrobras, seja por tributação, incentiva as fontes mais poluentes.
Em 2011, enquanto o
consumo de derivados de petróleo no país cresceu 19%, o de etanol caiu 29%. Ao mesmo
tempo, a tributação sobre a gasolina, por meio da Cide, foi reduzida de 14%
para 2,6%. “Enquanto as nações se debruçam para encontrar soluções capazes de
esverdear sua (suja) matriz energética, por aqui se desperdiça uma oportunidade
de ouro, retrocedendo no uso do combustível renovável”, escreve Xico Graziano
hoje no Estadão.
Da mesma forma,
pode-se citar a opção pelo transporte rodoviário, em detrimento das
alternativas ferroviária e hidroviária, muito menos agressivas ao meio
ambiente. Atualmente, caminhões são responsáveis por dois terços de toda a carga
movimentada no país, enquanto os outros dois modais somam apenas cerca de 31%, segundo
a CNT.
Expandir nossas ferrovias
ou tornar nossos rios navegáveis tem sido tarefa hercúlea nos meandros da
burocracia petista. Exemplos clamorosos são o da ferrovia Norte-Sul – cuja
conclusão foi novamente postergada, agora para fins de 2013 – e a demora do
governo federal para realizar obras de derrocamento (retirada de rochas do
leito) de rios como o Araguaia e o Tocantins.
Outra péssima experiência
a ser mostrada pelo Brasil na Rio+20 é o incremento do uso de combustíveis
fósseis para a produção de energia. O país que tem a maior disponibilidade
hidráulica do mundo tem usado crescentemente fontes sujas, como óleo diesel e
carvão, para gerar eletricidade.
Alternativas
ascendentes em todo o mundo, como a energia eólica e a solar, ainda são tratadas aqui
como “fantasia”,
como a elas se referiu a presidente da República em abril passado. Nos próximos
dez anos, a composição da matriz brasileira não deverá sofrer alteração, com as
fontes não renováveis mantendo o mesmo peso que exibem hoje, enquanto o resto do planeta caminha na sua redução.
Como anfitrião da Rio+20,
o Brasil deveria envergonhar-se de exibir credenciais como estas. Ter uma
ministra de Meio Ambiente que se orgulha de ver as ruas do país tomadas por
carros também não ajuda. Na nova agenda mundial da sustentabilidade, quem está
míope é o governo brasileiro. Faltam-lhe lentes para enxergar mais longe.
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