O tema do primeiro
dia do julgamento acabou sendo a discussão da possibilidade de desmembrar ou
não o processo. Se aceita a tese, significaria remeter o caso de 35 réus para outras
instâncias julgarem e manter no Supremo Tribunal Federal (STF) apenas os
processos de três deles: os deputados João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro
Henry.
Claramente, a
questão de ordem levantada ontem foi evidente manobra protelatória da defesa, sustentada
por Marcio Thomaz Bastos, advogado do Banco Rural. Nem ele escondeu isso: “Não
esperava ganhar. Acho que até tivemos bastante votos”, disse
o advogado, logo após a sessão. A votação acabou em 9 a 2, com o processo mantido
no STF.
Se fosse remetido
para primeira instância, como pediu Bastos, é bem provável que o julgamento do
mensalão sofresse imenso atraso. Com isso, muitas das penas prescreveriam e os
acusados sairiam ilesos. Foi isso, ao fim e ao cabo, o que foi posto em discussão
ontem: a tentativa de livrar parte dos mensaleiros de pagar pelo que devem.
Que o ex-ministro de
Lula tentaria tumultuar o julgamento eram favas contadas. O que não se esperava
é que o STF gastasse quatro horas – sendo mais de uma hora e meia por parte do ministro-relator
Ricardo Lewandowski, notório amigo da ex-primeira-dama Marisa Letícia – para deliberar
sobre algo que já havia sido discutido, e rejeitado, outras três vezes pelo próprio
tribunal. Alguns dos advogados previam que o debate sobre a questão de ordem não
perduraria mais que 20 minutos.
É certo que
percalços desta e de outras naturezas terão de ser enfrentados ao longo dos próximos
dias e semanas para que sejam exemplarmente punidos os responsáveis pela
montagem do esquema de desvio de dinheiro público para comprar apoio
parlamentar no Congresso e sustentar uma rede de corrupção destinada a perpetuar
o PT no poder. Foi só o começo, mas a Justiça será feita.
Embora tenha
demorado mais que o esperado para apreciar uma questão que parecia pacífica, ontem
o Supremo também parece ter demonstrado que não compactuará com artifícios que
vierem a ser interpostos pela defesa apenas para protelar o julgamento. Tempo é
justiça – ainda mais neste caso, com todos os riscos de prescrição e procrastinação
envolvidos.
A primeira sessão do
julgamento serviu para indicar que o processo do mensalão não tem volta, apesar
de todas as tramas urdidas pelos capas pretas petistas para tumultuá-lo. “O
processo é uma marcha no tempo e a marcha é para frente”, resumiu, com precisão,
a ministra Rosa Weber.
O PT, porém, resiste
e insiste em turvar o esclarecimento do escândalo. Seja também por meio de censura,
como a imposta aos veículos de comunicação da Câmara, forçados a ignorar o caso,
seja pelo enquadramento de parlamentares, como está sendo tentado com Osmar
Serraglio, que foi relator da CPI dos Correios.
Há alguns dias, o deputado
do PMDB disse: “Faltou [apurar] muita coisa. Muito do que eles [os réus] ficam
batendo agora que ‘não tá provado isso, não tá provado aquilo’ é porque a gente
estava amarrado, não tínhamos liberdade”. A mesma tropa de choque que impediu
maiores avanços da CPI, em 2005, agora tenta destituir Serraglio da
vice-liderança do governo na Câmara, como mostra hoje O
Estado de S.Paulo.
Felizmente, os
primeiros passos do julgamento no Supremo indicam que a truculência e os ardis
de petistas e mensaleiros não terão lugar. Não tem retorno: passados sete anos
da descoberta do gigantesco esquema de corrupção montado pelo governo Lula, a
hora de acertar as contas com a Justiça chegou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário