Os estudantes
saem-se melhor nas séries iniciais do ensino fundamental, pioram um pouco no
segundo ciclo e afundam de vez no ensino médio. Fica nítido que há um funil nos
anos finais de formação dos alunos. Desta lógica perversa, decorrem pelo menos dois efeitos mais
evidentes: alta evasão escolar e baixa capacitação de
quem sai das salas de aula para o mercado de trabalho.
O Ideb é calculado a
partir da Prova Brasil, avaliação aplicada pelo governo federal aos alunos da
rede pública – toda ela, obrigatoriamente – a cada dois anos. Escolas privadas
são avaliadas apenas por amostragem, mas é possível que também passem a ter que
se submeter compulsoriamente aos exames. A prova é aplicada no 5° e 9° anos do
ensino fundamental e no 3° ano do ensino médio.
Os alunos respondem
a questões de língua portuguesa, com foco em leitura, e de matemática, com ênfase
na resolução de problemas. Mas o desempenho nas duas disciplinas compõe apenas
parte da nota. Outra parcela é aferida a partir da progressão dos estudantes,
ou seja, do nível de aprovações e repetências. Daí surgem distorções.
Nas séries iniciais,
entre o 1° e o 5° anos, em que o alunato sai-se levemente melhor, o Ideb médio
do país passou de 4,6 em 2009 para 5 em 2011. Praticamente metade da melhora (0,22
ponto, para ser mais preciso) se deve, de fato, a um desempenho menos sofrível dos
estudantes em português e matemática; a outra metade, à redução da repetência. “Aprovar
é mais fácil que melhorar a aprendizagem. Para aumentar o fluxo, basta uma
canetada”, desnuda
Priscila Cruz, diretora do Todos pela Educação.
Em quaisquer dos
ciclos analisados pelo Ideb, o Brasil não passa de ano. As médias nos anos
iniciais do ensino fundamental (1° ao 5° anos), nos finais (6° ao 9° anos) e no
ensino médio (o antigo 2° grau) não ultrapassam 5, numa escala que varia de 0 a
10. Registre-se que, em todos os casos, as metas oficiais para 2011 foram
cumpridas, mas de que adianta, se tão medíocres são?
A nota do segundo
ciclo do fundamental foi de 4,1, enquanto a meta proposta para o ano era de 3,9, sem esquecer que, entre 2009 e 2011, o avanço foi de apenas 0,1 ponto. No
ensino médio, a nota média do Ideb no país variou de 3,6 para 3,7 no período,
resultado que garantiu tão somente o cumprimento da meta oficial à risca.
A situação é mais
calamitosa no ensino médio: “O índice de aproveitamento do ensino médio esteve,
desde 2005, ou encostado na meta, ou abaixo dela, sem contar que a meta é muito
baixa. O de 2007 ficou em 3,5 (a meta era 3,4), o de 2009 ficou em 3,6 (a meta
era 3,5), e o de 2011 ficou em 3,7 (a meta era 3,7). Não houve evolução na
aprovação do Ideb do ensino médio de 2009 (0,8) para 2011 (0,8); a evolução no
desempenho de matemática foi imperceptível, passando de 274,7 (2009) para 274,8
(2011); em língua portuguesa houve queda, passando de 268,8 em 2009 para 268,6
em 2011”, sintetiza o Valor
Econômico.
É nesta etapa de
aprendizado que há menos professores com formação adequada, estruturas mais
deficientes e projetos pedagógicos mais falhos. É também, não por coincidência,
para onde se destina a menor parcela dos gastos públicos em educação, excetuando-se
a infantil: o médio recebe 13% do total, enquanto 65% vão para o fundamental e 15%
para o superior.
Nos anos do ensino médio,
a distância entre o desempenho das escolas públicas e privadas se agiganta. A diferença
entre a pontuação delas chega a 2,3 pontos, enquanto nas séries inicias do
fundamental é de 1,8 ponto. Resultado: o desempenho de estudantes do ensino
médio público em português e matemática é inferior ao atingido por alunos do
último ano do fundamental particular, com três anos de estudos a menos.
“Por qualquer
ângulo, a conclusão é uma só: nossas redes não estão ensinando. Ainda que haja
algum avanço nos anos iniciais, nos anos finais e no ensino médio o país está
estagnado. Milhões de alunos passam anos nas escolas, mas chegam ao final dos
ciclos sem saber o esperado”, resume
Denis Mizne, da Fundação Lemann.
Nos últimos anos, o
MEC tem sido usado de trampolim e figurado como celeiro de pretendentes petistas
a cargos políticos de maior projeção. Desde a era Lula, de lá saiu um
governador de estado e, mais recentemente, um pretendente a prefeito de capital.
Os maus resultados que o país tem obtido na educação de suas crianças e jovens não
os credenciam a dirigir sequer um carrinho de pipoca.
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