O julgamento que
começa nesta tarde deverá se estender até setembro. Hoje será lido o relatório
do ministro Joaquim Barbosa e ouvida, ao longo de cinco horas, a acusação feita
por parte do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. “Creio que o Supremo
fará justiça. E na visão do Ministério Público, justiça é condenar todos”, resumiu
ele a’O
Estado de S.Paulo.
Por que Gurgel tem
tanta convicção? Basta ler o que o procurador-geral escreveu em suas alegações
finais sobre a ação penal n° 470: “As provas colhidas no curso da instrução,
aliadas a todo o acervo que fundamentou a denúncia, comprovaram a existência de
uma quadrilha (...) constituída pela associação estável e permanente dos seus
integrantes, com a finalidade da prática de crimes contra o sistema financeiro,
contra a administração pública, contra a fé pública e lavagem de dinheiro”.
Cabia aos “dirigentes
máximos” do PT – comandados por José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – operar este “engenhoso esquema de
desvio de recursos de órgãos públicos e de empresas estatais, e de concessões
de benefícios diretos ou indiretos a particulares em troca de ajuda financeira”,
ainda de acordo com o documento copiosamente preparado por Gurgel.
É esta “sofisticada
organização criminosa” – cuja atuação foi descrita em detalhes pelo então procurador
Antonio Fernando de Souza, antecessor de Gurgel na Procuradoria-Geral da República
(PGR), nas 136 páginas da denúncia apresentada ao STF em 11 de abril de 2006 – que
estará no banco dos réus ao longo das próximas semanas. Chegou a hora do acerto
de contas dos mensaleiros com a sociedade.
Até o próximo dia 15
serão ouvidos, em sessões diárias com cinco horas de duração, os advogados dos
38 réus. Cada um terá uma hora para se defender das “contundentes”, segundo
Gurgel, provas colhidas pela PGR durante as investigações – reunidas em 50.624
páginas, distribuídas por 235 volumes e 500 apensos. No dia seguinte, o ministro
Barbosa passará a ler seu voto. O primeiro réu a ter sua sentença conhecida será
Dirceu, o “chefe da quadrilha”.
As investigações conduzidas
ao longo destes últimos sete anos só fizeram consolidar na opinião pública a
convicção de que o PT instalou, no seio do poder público, um duto para drenar
dinheiro do contribuinte para bolsos privados, a fim de sustentar um projeto de
perpetuação do partido no poder.
Novas evidências continuam
a surgir, como a denúncia
feita pelo Ministério Público Federal e aceita pela Justiça Federal em São
Paulo em julho, mas só conhecida ontem, transformando Delúbio Soares, ex-tesoureiro
do PT, em réu também por lavagem de dinheiro – no STF ele já responde por formação
de quadrilha e corrupção ativa. Os tentáculos da organização criminosa, como se
vê, não têm fim.
O mais importante é
perceber que o que está em julgamento é uma forma nefasta de fazer política no
país, posta em prática pelo PT após assumir o poder federal, em 2003. Trata-se
de um organograma montado para corromper a relação entre os poderes, subjugar o
Congresso, vilipendiar os preceitos democráticos e perenizar a presença de um único
partido no comando da nação.
“O PT não inventou a
corrupção, mas elevou-a a um grau de sofisticação tal que colocou em risco a
democracia quando transformou o esquema criminoso em política de governo”,
resume Merval Pereira n’O
Globo. “Os juízes do STF não estão julgando um caso comum, mas um
estratagema golpista devotado a esvaziar de conteúdo substantivo a democracia
brasileira”, escreve o sociólogo Demétrio Magnoli no Estadão.
Já disse um magistrado
que os ministros do Supremo não devem agir como “ácaros
de gabinete”. É justamente o que se espera dos 11 brasileiros que, nos próximos
dias e semanas, definirão como o mensalão passará para a História. De suas
sentenças sairá a feição do país que pretendemos ter daqui para frente. Todos ansiamos
para que o Brasil deixe de ser tido como um paraíso para corruptos, mácula que,
infelizmente, nos persegue na era petista.
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