Na semana passada, o
governo fez circular a informação de que desistiu de repassar a exploração dos
aeroportos do Galeão, no Rio, e de Confins, na região metropolitana de Belo
Horizonte, à iniciativa privada. Será desastroso se, de fato, a administração
federal insistir em manter a Infraero à frente de duas das principais portas de
entrada no país.
No novo escopo
aventado pelas viúvas do estatismo que grassam em Brasília, a Infraero constituirá
uma empresa de participações, a Infrapar, e firmará parcerias público-privadas (PPP)
com investidores. Com isso, irá se manter no comando dos dois aeroportos que
apresentaram o maior crescimento de fluxo de passageiros em 2011 (32% em
Confins e 21% no Galeão).
A justificativa das
chorosas viúvas é que, sem as receitas dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e
Brasília, já concedidos à iniciativa privada, a Infraero não conseguirá
sobreviver, nem manter os outros 63 aeroportos que permanecerão sob sua alçada. Não poderia, por esta ótica, abrir mão de Confins e do Galeão.
“Essa é uma falsa
questão porque, desde o início das discussões, estava claro que a Infraero
deixaria de gerir os grandes aeroportos por uma razão muito simples: ela não
possui recursos, nem muito menos o Tesouro Nacional, para bancar os
investimentos necessários. A privatização, assim como no caso de rodovias e
ferrovias anunciado pela presidente, não tem motivação ideológica. É uma
necessidade”, analisa Cristiano Romero na edição de hoje do Valor
Econômico.
A inépcia da estatal
independe do que acontecerá no futuro. Desde sempre, a Infraero foi um poço de
malversação. A estatal não tem estrutura nem fôlego para acompanhar o
crescimento na casa de dois dígitos ao ano exibido pelos aeroportos brasileiros.
Os grandes investidores do setor já fizeram saber que PPP com uma empresa como
a estatal nem pensar...
Até porque a Infraero
simplesmente não consegue fazer o mínimo que dela se espera: bem cuidar dos
aeroportos do país. Neste ano, por exemplo, executou apenas 18,4% dos
investimentos previstos no Orçamento da União. De R$ 2 bilhões reservados,
somente R$ 370 milhões foram gastos até o fim de junho. Nos últimos 12 anos, a
média de execução é de 51%.
A privatização dos
aeroportos tem sido defendida há anos pela oposição ao governo petista. E há
anos vinha sendo rechaçada, até a bendita decisão anunciada há duas semanas
pela presidente Dilma Rousseff. Mas os anos de relutância cobraram seu custo e
levaram nossos terminais a um estado lamentável.
Segundo o Ipea, 17
dos 20 maiores aeroportos brasileiros não têm capacidade para dar conta do
fluxo de passageiros previsto para a Copa do Mundo de 2014. Pior: as melhorias
necessárias para ampliá-los e modernizá-los dificilmente ficarão prontas em
tempo hábil até a data da competição. Infelizmente, o governo Dilma parece,
agora, preferir insistir no erro que tomar o bom caminho das privatizações. As viúvas
agradecerão.
Assim como devem
estar exultantes com a criação de mais uma empresa estatal: a Segurobras. Se não
tivermos perdido a conta, será a 127ª estatal verde e amarela, o que
provavelmente é um recorde mundial. A criação da Segurobras, noticiada pela Folha
de S.Paulo no sábado, aconteceu à sorrelfa, no último dia 7, embutida
em mais uma medida provisória do tipo árvore de Natal, ou seja, daquelas que
tratam de tudo um pouco, longe da vista do público.
O Brasil necessita
alavancar os investimentos em infraestrutura, cujas condições hoje atravancam o
desenvolvimento do país, prejudicam as empresas e dificultam a vida das
pessoas. A gestão petista deu um passo certo com a privatização das rodovias, ferrovias e aeroportos.
Mas parece disposta a andar léguas para trás ao insistir em deixar nas mãos de
um Estado guloso e paquidérmico o que ele já demonstrou que não consegue fazer.
Só as viúvas comemorarão.
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