Corrupção não é algo
que a sociedade brasileira preze, muito pelo contrário. Os petistas, porém,
acham que podem transformar em crime menor o mais volumoso desvio de dinheiro
público para bolsos privados que se tem notícia. Lançando mão de jogos retóricos
e contorcionismos jurídicos, parecem desdenhar de que, para o cidadão comum,
isso tem nome: roubalheira.
Gilberto Carvalho
foi a campo um dia depois de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva
trocarem figurinhas sobre o julgamento do mensalão. É praticamente certo que o
ministro tenha decidido falar o que falou ontem numa ação combinada com seus
chefes – a atual e o antigo. Ou seja, expressa o desdém de ambos pela Justiça.
“Continuaremos à
frente com nosso projeto, e se decepcionarão muito aqueles que apostam em tirar
um proveito e que parcializam os julgamentos e as opiniões, pensando que isso
poderá causar um grande prejuízo inclusive eleitoral”, disse
o secretário-geral da Presidência a jornalistas.
Dilma e Lula já
tinham, de certa maneira, subido à tribuna do Supremo. Na segunda-feira, o advogado
de defesa de José Dirceu evocara os testemunhos de ambos para tentar absolver o
chefe da “sofisticada organização criminosa” que intencionava desviar R$ 1
bilhão dos cofres públicos para financiar a sua manutenção no poder. Evidentemente,
o defensor não agiu sem contar com aval das testemunhas citadas.
Até agora, oficialmente,
a ordem palaciana vinha sendo manter distância do julgamento – Lula chegara a
afirmar que tinha “mais o que fazer” do que acompanhar sessões do STF... Mas ontem
se pôde comprovar que os capas pretas do PT estão se movendo freneticamente
para inocentar os 38 réus do mensalão e garantir que seu projeto de poder não
sofra revés.
No entanto, a imagem
do PT já está indelevelmente impressa à história das falcatruas no Brasil.
Segundo pesquisa feita pelo Instituto Análise, o partido de Lula, Dilma e José
Dirceu é, entre todas as legendas políticas, a mais identificada com a corrupção:
9% dos entrevistados consideram-no “o mais corrupto” e 55% avaliam que “é
verdade que o PT e seus políticos são corruptos”.
Se a percepção da
identificação entre PT e corrupção na opinião pública já é esta, na dureza dos
fatos a proximidade entre partido e ilícitos tende a ser ainda maior. Até agora,
no julgamento, a defesa dos réus não conseguiu desmentir as provas apresentadas
pelo procurador-geral da República na peça de acusação.
“Se voltarmos à
época em que foram revelados os fatos que hoje sustentam o processo do
mensalão, (...) veremos que praticamente todos os que hoje estão sendo
discutidos no julgamento foram relatados já naquela ocasião, tendo sido
confirmados pelas investigações”, comenta Merval Pereira n’O
Globo, com o cuidado de citar um rol de malfeitos que os defensores dos
mensaleiros não conseguiram contradizer.
Seja nos autos, seja
em declarações que vêm dando à imprensa, os 11 ministros do Supremo têm
demonstrado que julgarão o mensalão com a independência, a correção e a
imparcialidade que se exige da mais alta corte do país – noves fora José
Antonio Dias Toffoli, que, na apreciação deste caso, nem lá deveria estar.
A influência que o Palácio
do Planalto ensaia tentar exercer sobre o STF não deverá encontrar qualquer
respaldo entre os julgadores. Pelo contrário. A sociedade brasileira tem
convicção de que, a partir da condenação dos réus que erigiram o gigantesco
esquema de corrupção do mensalão, é necessário dar fim ao projeto que só se preocupa
em eternizar-se no poder – como Gilberto Carvalho deixou claro ontem.
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