quinta-feira, 6 de junho de 2013

A indústria ainda respira

Em meio a uma safra de tempestades, o noticiário econômico produziu, enfim, uma boa notícia. A indústria brasileira cresceu bem em abril, engatando a segunda alta seguida e desanuviando um pouco as perspectivas para a retomada dos investimentos neste ano. Mas, para que a recuperação se efetive, será necessário mudar práticas e trilhar novos caminhos.

Segundo o IBGE, o setor cresceu 1,8% na comparação com março. Foi mais do que o mais otimista dos analistas havia previsto. Assim como havia sido registrado na semana passada no resultado do PIB do primeiro trimestre, novamente a produção de veículos foi o motor da expansão. Sem os automóveis e caminhões, a alta da indústria teria sido mais modesta: 0,5%.

Houve alta em todas as chamadas “categorias de uso”, ou seja, bens de capital, intermediários e consumo (duráveis e não duráveis). O mais impressionante, e positivo, foi o desempenho da produção de máquinas e equipamentos, que cresceu 3,2% no mês e 24% sobre abril de 2012 – só neste ano a alta já é de 15,5%.

Este indicador costuma sugerir maior disposição dos empresários para investir no aumento da produção. É um alento num país que precisa, urgentemente, superar suas deficiências e suas defasagens, ampliar a oferta e, desta maneira, frear a inflação e melhorar suas condições de competir com o resto do mundo.

Mesmo com a melhora, o setor industrial brasileiro ainda não voltou aos níveis recordes que atingira em maio de 2011 – falta avançar mais 2,6%. Há dúvidas, também, se o padrão de abril irá se repetir ao longo do ano: até agora, a indústria cresceu bastante em janeiro (2,7%), devolveu tudo em fevereiro (-2,4%), andou de lado em março (0,8%) e acelerou forte agora.

A perspectiva para este ano é de uma alta de 2,5%, ainda insuficientes para recompor a queda de 2,6% verificada em 2012. A trajetória ladeira abaixo foi iniciada em 2011, quando a indústria brasileira só cresceu 0,4%.

Quem sabe os bons ventos de abril ajudem a reorientar algumas políticas que vêm prejudicando o desempenho da indústria brasileira nos últimos anos. Em especial, nossa acanhada e retrógrada política comercial. Até os industriais brasileiros, antes refratários à maior abertura, estão gritando pela liberalização.

É possível orientar nossa política externa e nosso comércio internacional de maneira a tirar benefícios de um mundo que se expande em direção a mais, e não menos, livre-comércio. Uma das consequências será permitir que nossas indústrias se abasteçam de insumos e matérias-primas mais baratas vindas do exterior e exportem produtos de maior tecnologia e valor agregado.

O Brasil, porém, tem estado na contramão desta salutar tendência: nos últimos dez anos, nossa diplomacia limitou-se a fechar acordos comerciais apenas com Palestina, Egito e Israel, além de negociações restritas com Jordânia, Índia e África do Sul. Está passando da hora de mudar isso.

O governo brasileiro poderia pôr seriamente sobre a mesa uma proposta de revisão das regras do Mercosul. O bloco tornou-se uma camisa de força para a ampliação do comércio brasileiro, dada sua pretensão de ser uma (cada vez mais imperfeita) união aduaneira, em que todos os países-membros são obrigados a adotar tarifas externas comuns.

Este verdadeiro abraço de afogados só tem trazido prejuízos aos brasileiros, à nossa economia e, em especial, à nossa indústria. A relação com a Argentina, em particular, tornou-se uma dor de cabeça, como demonstra mais uma investida do governo Kirchner contra uma empresa brasileira, a operadora de ferrovias ALL, agora expropriada no país vizinho.

As perspectivas positivas que se abrem para a recuperação da indústria, em especial a de bens de capital, também poderiam servir para que o governo petista destrave, de uma vez por todas, seu programa de concessões e privatizações. O país precisa de investimentos, notadamente em infraestrutura, e ninguém melhor que o capital privado para sanar esta deficiência.

Numa temporada de trovoadas, a indústria trouxe um alento. É possível que, por uma série de particularidades, sua retomada ainda não seja tão exuberante quanto os números de abril sugerem. Trata-se de um desempenho positivo, mas ainda longe de ter o vigor que o país precisa para sair do atoleiro em que está metido. Para isso, será preciso fazer muito mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário