Na sexta-feira, depois de quase duas
semanas de manifestações, a presidente convocou cadeia
nacional de rádio e televisão para se pronunciar sobre os protestos que estão
fazendo o Brasil tremer.
Finalmente deu ao instrumento – do qual abusa para
fins eleitoreiros – o uso devido. Mas, numa época em que as ações se desenrolam
na alucinante velocidade das redes sociais, Dilma demorou uma eternidade para
dizer a que veio. E disse muito pouco.
Seu pronunciamento
de dez minutos usou o velho estratagema petista de
confundir e não explicar. Sempre que se vê em apuros, o PT transmuta-se em pêndulo:
é governo, mas parece oposição. No poder, tem a responsabilidade de resolver
problemas, mas dá um jeito de aparecer cobrando, como quem não dispõe da caneta.
É oportunismo puro e da pior espécie.
Dilma diz que,
ouvindo o clamor das ruas, é possível fazer “melhor e mais rápido muita coisa
que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e
econômicas”.
Primeiro: as ruas não querem apenas algo melhor; querem também, e
principalmente, algo que seja diferente do que aí está.
Há reivindicações pontuais
que funcionaram como estopim dos protestos, como a redução do preço das
passagens de ônibus. Mas há demandas mais gerais que indicam a exaustão de uma
rota, a rejeição de um jeito de fazer política, o clamor por uma forma mais
honesta, correta e eficiente de cuidar das necessidades dos cidadãos e bem
aplicar o dinheiro que eles pagam de imposto.
Segundo: um partido
que caminha para completar seu 11° ano no poder tem como falar que não teve
como fazer as melhorias que o país quer?
Para início de conversa, estamos há
anos sem ver o poder central propor uma reforma sequer de vulto para o país. De
remendo em remendo, chegamos onde estamos. Dilma desperdiçou todo o seu capital
político sem ousar nada, mudar nada, avançar nada.
O pronunciamento
também veio recheado de mistificações. Dilma disse que não abre mão do mesmo “combate
sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos” que as ruas reclamam.
O que ela tem a dizer sobre os muitos ex-faxinados que foram, pouco a pouco,
reocupando seus espaços nos ministérios transformados em feudos partidários?
Dilma fala em
transparência no mesmo momento em que seu governo torna sigilosa a divulgação de
gastos da comitiva presidencial em nababescas viagens internacionais.
Fala em
reforma política, quando seu partido tenta fechar as portas para novas siglas
no Congresso, sua base parlamentar busca manietar o Ministério Público e sujeitar
decisões do Supremo à chancela do Legislativo.
A presidente promete
melhoria na prestação de serviços públicos, mas o máximo que consegue é forjar
mais medidas inócuas e sem a mínima capacidade de responder aos reais anseios
da população, como a importação de médicos.
Além de
mistificações, a fala da presidente contém mentiras, como quando afirma que não
há dinheiro público nas obras da Copa. “Segundo o próprio ministério [do Esporte],
a previsão é que os investimentos para o Mundial alcancem R$ 33 bilhões, com os
governos federal, estaduais e municipais custeando 85,5% das obras”, informou a
Folha de S.Paulo na semana passada.
Nesta segunda-feira,
a fim de tentar mostrar que está agindo, a presidente receberá governadores e
prefeitos de grandes cidades. Provavelmente, tentará dividir com eles a fatura
da crise, transformando-os também em vidraça. Na hora dos louros, o governo
petista apresenta-se absoluto; na hora do apuro, socializa os prejuízos.
Antes, Dilma
conversará com a moçada do Movimento Passe Livre, provavelmente tentando dar um
sinal de que dialoga com “os líderes das manifestações pacíficas, os
representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos
movimentos de trabalhadores, das associações populares”.
A presidente talvez
ignore que este é um movimento cujo principal traço é justamente rechaçar
quaisquer lideranças. Ao Planalto, só acorrerão os movimentos que o PT domesticou
com anos de mesada.
Em seu
pronunciamento à nação, a presidente pelo menos acertou ao defender a
preservação da ordem e a garantia de manifestação dos que protestam pacífica e
democraticamente.
Sua resposta, porém, não está à altura do clamor por mudanças
que a imensa maioria dos que estão indo às ruas quer. Dilma Rousseff continua a
encenar fantasias. Mas o único figurino que não consegue vestir é o de
governante capaz de construir um país melhor.
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