O Datafolha publicou
ontem pesquisa de opinião que registra queda de oito pontos percentuais na
aprovação da presidente em relação ao patamar alcançado em março passado. É a
primeira vez que isso acontece desde que Dilma tomou posse, há praticamente dois
anos e meio.
O governo da petista
vinha reagindo com soberba às críticas endereçadas a seus renitentes desacertos.
“A nossa popularidade é alta”, costumam desdenhar. Agora terão que pôr as barbas
de molho.
Pode até ainda ser alta,
mas cai, e como: Dilma perdeu popularidade entre homens e mulheres, em todas as
regiões do país, em todas as faixas de renda e em todas as faixas etárias. Sua aprovação
já retrocedeu ao nível de janeiro de 2012.
Segundo alguns dados
publicados pela Folha de S.Paulo ontem (a íntegra da pesquisa ainda não está disponível na
internet), a aprovação a Dilma simplesmente despencou entre os brasileiros que
ganham mais de dez salários-mínimos: queda de 24 pontos. Com isso, a avaliação da
presidente neste extrato social caiu ao nível de dois anos atrás.
Entre os que têm
ensino superior, a queda foi de 16 pontos percentuais, fazendo a presidente retroceder
ao patamar de agosto de 2011. O mesmo aconteceu com a população entre 25 e 34
anos (queda de 13 pontos). Entre os brasileiros da região Sul, Dilma recuou ao
nível de agosto de 2012 (queda também de 13 pontos).
Mas não foi apenas
nestes segmentos, em geral mais ilustrados, da população que a presidente
declinou nestes últimos três meses. Como os dados não estão inteiramente
abertos na internet pelo Datafolha, vale se fiar no que escreveram Mauro
Paulino e Alessandro Janoni, diretor-geral e diretor de Pesquisas do instituto,
em análise
publicada ontem pelo jornal.
“O que chama mais a
atenção na pesquisa é que, dos oito pontos de popularidade que a presidente
perdeu, a maior parte é proveniente de conjuntos menos escolarizados e de menor
renda, especialmente do Sudeste e Sul. E o mais importante – as mulheres, muito
mais do que os homens, deixaram de apoiar Dilma. E quando se focaliza o
subconjunto de mulheres de renda mais baixa, essa tendência se potencializa.”
O que pesou na perda
de popularidade foi, principalmente, a inflação. O tomate indigesto, a passagem
de ônibus cara, a manicure proibitiva pesaram no bolso dos brasileiros de A a
Z, salgaram a vida da população e azedaram o humor dos eleitores. A expectativa
de que a inflação vai piorar atinge 51% dos entrevistados e só 12% creem em melhora.
Também pioraram as perspectivas
quanto ao futuro. Já são maioria – numericamente, também pela primeira vez
desde o início da atual gestão – os brasileiros que acham que o desemprego vai
aumentar no país. O pessimismo quanto a este aspecto é o mais alto desde fins
de 2009.
Há apenas três
meses, 41% achavam que a situação do emprego iria melhorar e 31% achavam que
iria piorar; agora, são 27% e 36%, respectivamente, numa aceleradíssima inversão
de expectativas. A sensação de bem-estar vai se perdendo, no mesmo ritmo em que
o dinheiro encurta, o crédito encarece e as oportunidades de trabalho rareiam.
Dilma Rousseff foi eleita
em cima de uma lenda. Nunca, jamais, passou nem perto de ser a boa gestora que
seu padrinho político apregoou ao país. Agora, sua infalibilidade também vai
sendo posta à prova, onde quer que se olhe.
As deficiências da presidente
no controle da inflação, na irritante repetição de pibinhos e previsões
furadas, na manutenção do emprego vão se revelando aos brasileiros com todas as
cores. Seu poderio parlamentar é declinante; sua capacidade de destravar
investimentos e atrair o capital privado é inexistente; seu Brasil de
propaganda tem limites.
A presidente não
ousou fazer uma única reforma de peso e dedica-se a quinquilharias ao invés de se
debruçar sobre os crescentes problemas do país. Dilma não é “nem gerente
sintonizada com as exigências dos tempos modernos, muito menos gestora
admirável. Atrapalhada na condução da economia. Um rotundo desastre no
exercício cotidiano da política”, sintetiza Ricardo Noblat n’O Globo.
Quem sabe assim, já
sem o conforto do colchão da popularidade nas nuvens, Dilma Rousseff faça o que
é necessário ser feito, restaure a confiança no país e cuide com zelo do dinheiro
público – seu descuido está levando as agências de classificação de risco a enquadrar o
Brasil entre os párias do mercado financeiro mundial.
Em resumo, deixe de empurrar os
problemas com a barriga, à espera de uma ainda longínqua eleição, como vem fazendo
nos últimos meses. A presidente não perde por esperar, porque os brasileiros já
começaram a lhe dizer não.
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