A queda captada pelo
Ibope é da mesma magnitude daquela que o Datafolha aferiu há duas semanas: oito
pontos percentuais. Agora, 55% consideram ótima ou boa a gestão da presidente
da República, ante os 63% de três meses atrás. Além disso, agora 25% também
desaprovam a maneira de Dilma governar e 28% dizem não confiar na presidente.
Há na pesquisa mais um
dado especialmente significativo: enquanto no Datafolha a avaliação negativa da
presidente apenas variara dentro da margem de erro (de 7% para 9%), no Ibope o
índice dos que classificam seu governo como ruim ou péssimo quase dobrou,
passando de 7% para 13%. Para 32%, a atual gestão é regular.
O prestígio da
presidente cai em todas as faixas de renda, em todas as regiões e estratos
sociais. Entre quem ganha acima de dez salários mínimos, a queda dos que
aprovam a gestão dela foi a mais significativa: 27 pontos, de 77% para 50%. Mas
também alcançou os de renda intermediária (dois a cinco mínimos), com redução
de 78% para 69%. No Sudeste, caiu 13 pontos.
Dilma até teve
sorte, porque os pesquisadores do Ibope foram a campo entre 8 e 11 de junho, antes do estouro dos
protestos pelo país. Fosse feita hoje, é possível que muito mais brasileiros
associariam o aflorar dos descontentamentos à inapetência da presidente para
bem governar. Saindo da avaliação geral para a de áreas específicas, a
desaprovação à atual gestão é ampla, geral e quase irrestrita.
Das nove áreas de
atuação do governo avaliadas, seis são desaprovadas pela maioria da população:
segurança pública, saúde, impostos, combate à inflação, taxa de juros e
educação. Numa das outras três em que Dilma ainda consegue mais aprovação do
que rejeição (a do combate ao desemprego), a tendência é de forte declínio: a
diferença positiva era de 17 pontos há três meses e agora é de apenas sete.
Merece destaque a
avaliação que os brasileiros fazem da atuação do governo de Dilma no combate à
inflação. Três meses atrás, segundo o Ibope o país dividia-se igualmente entre
os que a aprovavam e os que a reprovavam. Agora, a desaprovação subiu dez pontos,
para 57%, e nunca foi tão alta nesta gestão. A aprovação caiu o mesmo tanto,
para 38%.
Dilma também detém enormes
saldos negativos quanto a suas políticas de segurança pública (67% desaprovam e
apenas 31% aprovam, na pior de todas as avaliações), saúde (66% a 32%) e
impostos (64% a 31%). Na política de juros, o placar desfavorável é de 54% a
39% e na educação, de 51% a 47%.
Levantamentos como
este servem para dar contornos mais nítidos aos motivos pelos quais milhares –
talvez já sejam milhões – de brasileiros por todo o país decidiram deixar a
tranquilidade dos seus lares para ir para as ruas reclamar. Claro está que as
passagens de ônibus foram apenas o estopim da revolta.
Poderia haver alguma
esperança se Dilma viesse demonstrando maior desenvoltura e preparo para ocupar
o cargo para o qual foi eleita há quase três anos. Mas o que tem acontecido é
justamente o contrário: uma presidente que, de maneira recorrente, se apequena
na função, foge dos problemas e parece mais preocupada com seu futuro político
do que com o presente do país.
Uma presidente que,
ao menor sinal de apuro, recorre a quem está de prontidão para dar conselhos à
sua pupila – provavelmente, poucos deles úteis – ou para tentar encontrar, por
meio do marketing, uma forma de distorcer a realidade de maneira a fazê-la
caber nas artimanhas eleitoreiras de seu projeto presidencial.
“Ela, que tanto
intimida a sua equipe com seus modos autoritários e a certeza de ser a dona da
verdade, tornou a demonstrar que, na hora H, não é ninguém sem dois
conselheiros. Um é o marqueteiro-residente do Planalto, João Santana. O outro,
claro, é o seu progenitor político Luiz Inácio Lula da Silva”, resume O Estado de S.Paulo em editorial
em sua edição de hoje.
Dilma Rousseff vai
conseguindo descontentar a tudo e a todos. Até os seus já não lhe suportam. Os sindicalistas
não lhe querem e preferem tratar com quem continua mandando de fato. Os empresários
sonham em vê-la pelas costas. E o povo, nas ruas, transforma o que antes era
dissimulado em rugido ensurdecedor. Como mostra o Ibope, todos têm razões de sobras para estarem
descontentes e para protestar.
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