Tanto ontem, num dos
mais conflagrados dos 14 dias desde que a onda de revolta começou, quanto nos
demais dias, a presidente da República praticamente desapareceu. Onde está
Dilma Rousseff? A impressão é de que estamos num país à deriva, num dos
momentos mais tensos e convulsionados por aqui em décadas.
A presidente
mostra-se atônita, inepta, perdida. Desde o começo dos protestos, manifestou-se
apenas uma única vez, em meio a uma solenidade dedicada a tratar de marcos legais
para a exploração mineral. De resto, mudez total.
Naquela ocasião, Dilma
enfiou em seu discurso palavras vazias, meras “vacinas” para tentar
transmutar-se de vidraça em estilingue. Não foi suficiente e a presidente teve
que correr para escorar-se nos seus conselheiros de toda hora – ou melhor seria
dizer nos governantes de fato?
Ontem, com Brasília
tomada por manifestações, ameaça de invasão do Congresso e do Palácio do
Planalto, depredações ao Itamaraty e à Catedral, Dilma resolveu agir. Convocou
para esta manhã uma reunião de sábios. Pela composição da turma reunida, de lá boa
coisa não sairá: José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann, Gilberto Carvalho, Aloizio
Mercadante e Ideli Salvatti.
A presidente tomou
providências: cancelou viagens ao Japão e a Salvador. Quanto às manifestações,
que ontem reuniram mais de 1 milhão de pessoas (há quem fale em 1,4 milhão) em
388 cidades diferentes do país segundo O Estado de S.Paulo, nenhuma palavra,
nenhum gesto, nenhuma iniciativa da chefe da nação.
Diz-se que Dilma – tão
pródiga no hábito, que usa sem pejo quando há fitos eleitoreiros – pode
convocar para hoje cadeia nacional de rádio e televisão para pronunciar-se.
Será que, enfim, o país poderá voltar a ter a sensação de que tem alguém no
comando da República? Tudo indica que não.
A preocupação do Planalto
passa longe disso. Com o país conflagrado e clamando por respostas, as cúpulas
do governo e do PT ainda avaliam se a chefe da nação deve ou não pronunciar-se porque
temem “trazer para dentro do Planalto a responsabilidade pelos tumultos no país”
e porque a ordem é “evitar excesso de exposição pública”, segundo a Folha de S.Paulo.
Mas, afinal, para
que Dilma quis a cadeira presidencial e luta, de forma tão extemporânea e
indevida, para lá permanecer por mais quatro anos? Por que, se nas horas em que
a presença de uma liderança é mais demandada, ela simplesmente corre para o
colo de Lula e de seu marqueteiro?
É também contra uma
governante tão apequenada e incapaz que a voz das ruas se levanta. “As
principais cidades estão com suas vidas semiparalisadas há quase duas semanas.
Haverá prejuízos econômicos. Dilma não sabe qual resposta oferecer”, ainda
consegue espantar-se Fernando Rodrigues na Folha.
Neste seu
desnorteio, Dilma acena com pacotes de bondades para a juventude. É um claro
sinal de que nem ela, nem seu governo estão entendendo patavina. É a boca
entortada pelo velho cachimbo: o PT acha que basta pôr sua política de
cooptação em marcha – como fez com a UNE, o MST e assemelhados – para as coisas
se acomodarem. Com a moçada que está nas ruas, não há chance de colar.
As multidões não
querem migalhas. Querem, como comprovou pesquisa feita pela comunidade Avaaz,
que o dinheiro público seja bem empregado, que a corrupção do poder seja
extirpada e que as liberdades não sejam cerceadas – como ameaçam a PEC 37, que tenta
manietar o Ministério Público, e o projeto de lei que tenta vedar novos partidos.
Dilma e os petistas parecem
não ter entendido nada. Como ficou claro no repúdio que os manifestantes
exerceram à tentativa de gente como Rui Falcão e José Dirceu de transformar o movimento
nacional pela cidadania, pela restauração de valores e pela reconquista de direitos
numa “onda vermelha”. Parece até que os capa-pretas do PT se inspiraram na
malfadada estratégia de Collor em 1992...
O que se viu foram petistas
sendo rechaçados. Agora até Lula teme passeata e cancela aparições públicas. O
povo não é bobo e não tolera mais estas tentativas de manipulação de fatos, de
intenções, de desejos. Como o partido que governa o país há mais de dez anos
quer se fazer parte de movimentos que reivindicam justamente a mudança do que aí
está? Os petistas podem, sim, ir para a rua, mas só se for para gritar: “Abaixo
nós”.
Espera-se que quando,
e se, agir, Dilma Rousseff não venha com mais uma tentativa de ludibriar os
cidadãos à base de pronunciamentos ocos, edulcorados pelo seu marketing
manipulador. O que o Brasil cobra é que ela exerça as funções para as quais foi
eleita. Que se porte, pelo menos uma vez, como presidente de uma nação que está
mostrando nas ruas que merece muito mais do que lhe tem sido oferecido.
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