A chefe da nação
recebeu uma vaia
sonora, espessa e prolongada por intermináveis dois minutos durante a cerimônia
oficial de abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Foi todo um manancial
represado de insatisfações que se manifestou momentos antes de a seleção
brasileira começar a bater a do Japão em campo, jogando um futebol bacaninha. Deve
ter doído na presidente tanto quanto um grito de gol comemorado por torcida
adversária.
Dilma passara a
semana excomungando as críticas que seu governo vem recebendo. Fez isso depois
de ouvir do padrinho Lula que deveria “partir para cima” para segurar a curva
descendente de sua popularidade e “dar a volta por cima”. Não demorou muito
para levar bola nas costas.
A presidente começou
suas perorações na quarta-feira, quando, numa cerimonia oficial no Palácio do
Planalto, comparou quem não lhe diz amém a um personagem de Camões que, a
despeito do oba-oba geral vigente à época, via e apontava riscos nas aventuras
ultramarinas e mercantilistas de Portugal.
Continuou na
quinta-feira, quando tachou seus críticos de “vendedores do caos”, durante
evento com a militância petista em Curitiba. E voltou à carga, no Rio, na
sexta-feira, quando afirmou que a situação desconjuntada por que passa nossa
economia atualmente é fruto de “estardalhaço e terrorismo informativo” e não de
problemas efetivos, como inflação em alta e contas públicas em petição de miséria.
Este pessoal de
personalidade doentia e que adora flertar com o caos deve ter corrido para
comprar ingressos na última hora para o jogo de estreia da Copa das
Confederações e lá despejar, direto na face da presidente, sua noção
depauperada das coisas, sua indignação amalucada com um país que vai para
frente, sua revolta sem sentido com uma realidade típica de comercial de
margarina. Bom, assim deve ter imaginado Dilma...
Se havia, até pouco
tempo atrás, uma insatisfação algo difusa com o estado atual das coisas, ela
vai agora se tornando mais presente. De algo amorfo, vai se transformando em
revolta palpável, sentida e doída na pele. Passagens caras de ônibus acabam
servindo para catalisar o descontentamento com anos de catraca livre para a corrupção,
de falta de ética, de um vale-tudo pelo poder – em suma, de descompromisso com
a população.
Os centavos a mais que
detonam protestos são os mesmos que pesam nos preços da comida, da moradia, dos
remédios. O desagrado com serviços prestados com má qualidade é o mesmo que
orienta o descontentamento com o imposto elevado que não reverte em saúde,
educação e segurança à altura. O bilhete de ônibus tornou-se o passaporte de
protestos mais gerais.
Não são meros
pessimistas, arautos do caos, derrotistas incorrigíveis os insatisfeitos com o
atual estado do país, como quer fazer crer Dilma. São, também, os que veem e
anteveem problemas, que tentam alertar antes que o caldo entorne, que
prefeririam que tudo estivesse bem para não ter que chegar a vaiar um presidente
da República antes de uma partida festiva de futebol. São, enfim, os que
preferem um Brasil diferente.
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