Fazer e desfazer
medidas, tomar decisões e logo voltar atrás tornou-se uma lastimável rotina na
gestão da petista. Em muitas ocasiões, a inépcia foi relevada, numa espécie de
gesto de boa vontade com a presidente. Mas isso torna-se simplesmente
inaceitável quando acontece no momento em que o país está em crise, mergulhado
em protestos e envolto em insatisfação generalizada.
Dilma voltou ontem
atrás na esdrúxula proposta de convocar uma constituinte para fazer uma reforma
política, lançada por ela apenas um dia antes. Resta a pergunta: a constituinte
com cheiro de golpe bolivariano foi apenas uma tentativa de desviar o foco da pressão
das ruas ou foi, na realidade, a mais rematada comprovação de que a presidente não
sabe o que faz?
O bater de cabeças no
governo dela é sonoro. As propostas para enfrentar a crise, se é que podem ser
chamadas assim, passam longe do que a população realmente clama para enfrentar
suas dificuldades cotidianas. A impressão que fica é de uma gestão devotada à
empulhação: Surgiu um problema? Desvie-se a atenção, quem sabe ele desaparece?
Depois que a
lambança da constituinte foi ampla, geral e irrestritamente rechaçada, os
ministros mais próximos à presidente tentaram empurrar ao distinto público a
história de que Dilma não disse o que disse. Pelo jeito, 190 milhões de pessoas
estavam erradas e só ela e seus sábios estavam certos...
O recuo teria sido,
segundo gente como Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo, resultado de uma
“má interpretação” das palavras – sempre clarividentes, aliás – de Dilma. O
vice-presidente Michel Temer chegou a afirmar que tudo não passou de um
“problema redacional”. Quer dizer que a presidente da República também não lê o
que assina? Fala sério!
Dilma é habituée em
expressar-se mal. Suas frases são desconexas; suas palavras, imprecisas; suas reais
intenções, uma incógnita. Enquanto foi apenas uma questão de má comunicação,
muita patacoada dela foi perdoada. Mas o problema ganha outra dimensão quando
se constata que tais fragilidades exprimem e sintetizam a total incapacidade de
Dilma para o exercício do cargo de presidente da República.
No afã de desvencilhar-se
do beco sem saída em que sua gestão enfiou o país, e para o qual o Brasil agora
acordou, Dilma e seus auxiliares lançam mão da primeira ideia que lhes vem à
cabeça. É a política do “se colar, colou”. E é, também, uma velha prática do
PT: mudar de assunto para tentar se livrar dos abacaxis, como aconteceu na
época do mensalão. A questão é que, na dura vida real, problemas não somem com
passes de mágica ou truques de marketing.
A proposta da constituinte
– para a qual Mercadante ontem se deu conta de que “não há tempo hábil” e o
próprio vice-presidente considerou “rompimento da ordem jurídica” – deu em
nada. Mas o governo petista insistirá em seu arremedo de democracia direta: a
ideia agora é fazer a reforma política por meio de plebiscito. Por quanto tempo
a nova tese irá perdurar?
O que é preciso
deixar claro é que qualquer reforma política, por melhor que seja, não
resolverá o que, cobertos de razão, os brasileiros pedem nas ruas. Não acabará
com a corrupção – a derrubada da PEC 37 é apenas um bom começo – e com a má
gestão do dinheiro público, marcas indeléveis da gestão Dilma. Não melhorará os
serviços de saúde, a qualidade da nossa educação, a precariedade da segurança
pública.
A presidente faz o
país perder tempo precioso discutindo o que não é o mais relevante. Reforma política
é até importante, mas não é a panaceia na qual o PT quer, desesperadamente,
transformá-la, a fim de fugir dos protestos e das reivindicações oriundas das
ruas.
Uma coisa é certa: tratar um assunto quase incompreensível para o grosso
da população – que inclui, entre outros temas, adoção de voto distrital e voto em
lista – por meio de plebiscito está longe de ser a forma adequada de enfrentar os
graves problemas do país.
“Se fosse perguntar
num plebiscito se as pessoas querem ou não reforma política, muitas iriam dizer
que apoiam sem entender do que se trata. O plebiscito não se aplica. É uma
questão muito séria, da qualidade do voto, para ser tratada dessa forma”,
comenta Maria Celina d’Araújo n’OGlobo. “O povo nas ruas não está falando de constituinte.”
Em poucas horas, Dilma
Rousseff conseguiu uma façanha: piorar muito o que já parecia ter chegado ao
limite do insuportável. Apresentou uma proposta que, no fim das contas, visava
mesmo era ludibriar o desejo de participação popular expresso pelos brasileiros
nas últimas semanas.
Conseguiu, assim, produzir um atestado de que seu governo, além de ser composto por um monte de baratas tontas, é um verdadeiro barata-voa.
Conseguiu, assim, produzir um atestado de que seu governo, além de ser composto por um monte de baratas tontas, é um verdadeiro barata-voa.
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