Pelas estatísticas do Caged (Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados) divulgadas ontem pelo governo, foram abertos apenas 41,5 mil
novos postos de trabalho no mês passado. Os resultados representam uma série de
recordes, todos negativos.
Desde 2003, não se criavam tão poucos empregos no país num
mês de julho. Também pela primeira vez em dez anos, o saldo líquido nas nove regiões
metropolitanas foi negativo: foram fechadas 11 mil vagas nos grandes centros
brasileiros no mês passado.
Todos os grandes setores econômicos geraram menos vagas
agora do que um ano atrás. Exceto a agricultura, que caiu “só” 24%, os demais
despencaram: a queda chegou a 93% no comércio, 80% na construção civil e 71% em
indústria e serviços, sempre na comparação com julho de 2012.
Isso significa que os motores da economia estão perdendo
propulsão de forma generalizada. Alguns segmentos específicos mais demitiram do
que contrataram, fechando postos de trabalho. É o caso dos serviços industriais
de utilidade pública e da extrativa mineral.
Subsetores da indústria de transformação – como material
elétrico e de comunicações; madeira e mobiliário; borracha, fumo e couros; e vestuário
– também eliminaram empregos no mês, assim como o comércio varejista e os
serviços de ensino.
Um aspecto especialmente grave é o que acontece no comércio.
Em julho, a atividade abriu apenas 1.545 vagas, no pior desempenho desde 1998,
segundo a LCA Consultoria. Para se ter ideia do tombo, nos dois últimos anos a
média de geração de empregos do setor no mês havia sido de quase 26 mil.
Trata-se de uma indicação clara de que as molas-mestras do
modelo de crescimento que vigorou nos últimos anos no país enferrujaram.
Consumo e renda em baixa, afetados por uma inflação renitente, estão agora martelando
o mercado de trabalho.
No acumulado no ano, a queda verificada na geração de
empregos formais é de 33%. São 457 mil empregos a menos do que os gerados entre
janeiro e julho de 2012. Não é pouca coisa; na realidade, é o pior resultado para
o período desde 2009. O Nordeste, onde estão as mais altas taxas de desemprego
do país, fechou quase 9 mil vagas neste ano, segundo a Folha de S.Paulo.
Os resultados do Caged divulgados ontem são especialmente
decepcionantes porque a expectativa era de que o país tivesse criado cerca de
100 mil empregos em julho. Não veio nem a metade disso, prenunciando a sangria
que deve marcar o desempenho da nossa economia neste terceiro trimestre.
“O mais surpreendente do número do Caged divulgado ontem é o
tamanho da queda, e não a redução em si, que já era esperada. Chama ainda mais
atenção o fato de que o recuo na geração de empregos é generalizado na
economia. A intensa desaceleração levanta a possibilidade de uma elevação mais
rápida da taxa de desemprego”, analisa Fernando
de Holanda Barbosa Filho, economista do Ibre n’O Estado de S.Paulo.
O aumento da taxa de desemprego ainda não aconteceu,
conforme divulgou o IBGE
nesta manhã. A média ficou em 5,6%, abaixo dos 6% de junho, mas maior que os
5,4% de julho de 2012. Particularmente piores foram os índices no Nordeste: na
comparação com julho do ano passado, a taxa apresentou alta significativa em
Salvador (de 6,7% para 9,3%) e em Recife (de 6,5% para 7,6%).
Mesmo diante de tudo isso, há quem, no governo da presidente
Dilma, ainda considere que o Brasil “tem dado de goleada”, como disse
ontem a ministra Ideli Salvatti. É gente que parece não ver que, na realidade,
a defesa já foi toda vazada.
Esta dose excessiva de irrealismo e alheamento não ajuda nada
no enfrentamento dos problemas que estão se acumulando no dia a dia do país. Preservar
o emprego deveria ser prioridade número um do governo petista. Mas ele prefere
cantar vitória muito antes da hora. Quem perde são os trabalhadores.
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