O PIB
brasileiro cresceu 1,5% no segundo trimestre do ano. É a maior marca, nesta
base de comparação, desde o primeiro trimestre de 2010. Novamente, a salvação
da lavoura nacional veio da agropecuária, com 3,9% de expansão no período – bem
abaixo, porém, dos 9,7% do primeiro trimestre.
A indústria cresceu 2%, com recuperação significativa em
relação ao período mais recente – no trimestre anterior, o setor decaíra 0,2%. Os
serviços se expandiram 0,8%, também numa curva ascendente.
Outro resultado relevante veio da formação bruta de capital
fixo, palavrão que os economistas usam para se referir a investimentos em
máquinas, equipamentos e construções. No trimestre, a alta foi de 3,6% – um bom
número, mas, assim como ocorreu com a agropecuária, também inferior aos 4,7% do
primeiro trimestre do ano. A taxa de investimento subiu a 18,6% do PIB.
Quando se olha a taxa acumulada nos últimos quatro trimestres,
a expansão da economia brasileira foi de 1,9%. Esta é, pois, a velocidade em
que o país veio rodando nestes últimos 12 meses, numa marcha mais típica de pibinhos.
A acelerada do segundo trimestre não deve mudar esta perspectiva.
É voz corrente que o período compreendido entre os meses de
abril e junho tenha marcado o ápice da economia brasileira neste ano. Até
então, as expectativas se mostravam positivas, os investidores ainda tinham
algum ânimo quanto ao futuro do país e o governo reinava mais ou menos
absoluto.
Desde os protestos de junho, porém, este faz-de-conta
desmoronou e a dura realidade foi se impondo. Em julho e agosto, a safra foi
recheada de maus resultados e perspectivas sombrias. Não predomina mais a
esperança de que o Brasil consiga decolar nos próximos meses, pelo contrário.
Um dos principais indicadores deste desânimo é a queda verificada
nas expectativas tanto das empresas quanto dos consumidores, baixas como há
muito não se via. Ambos ressabiados com as incertezas que cercam nossa economia,
expressam tendência a diminuir as apostas em dias melhores para o país.
Também o ritmo de consumo, que funcionou como motor potente
enquanto a nossa economia exibia mais vigor, já está rateando: em junho, o
crescimento do varejo em relação ao mesmo mês do ano passado foi de apenas 1,7%.
Outrora chegou a rodar perto de 10%. No trimestre, a alta foi de 0,3%, segundo
o IBGE.
As expectativas até poderiam ser mais positivas se o governo
federal estivesse fazendo sua parte e ajeitando a casa. Mas o desempenho do
setor público é o pior possível. Os gastos continuam em alta, os investimentos
não acontecem e os marcos regulatórios estão cada vez mais confusos. Quem se
aventura?
Ontem, o Tesouro divulgou o desempenho das contas públicas
em julho. Um dado, pinçado pelo economista Mansueto Almeida, resume
bem o desarranjo: enquanto as despesas primárias do governo federal aumentaram quase
R$ 58 bilhões de janeiro a julho, os investimentos cresceram apenas R$ 26 milhões.
Para complicar, há também os juros em alta – a nova elevação
da Selic nesta semana nos coloca na terceira posição entre os que praticam as mais
altas taxas em todo o mundo – e a desvalorização do real (alta do dólar). Tem ainda
o mercado de trabalho em ritmo declinante, com as piores marcas de geração de
emprego em dez anos, e a renda em baixa, fruto de uma inflação que só o governo
petista não considera alta.
O corolário disto tudo é que o Brasil, com seus 2% previstos,
ainda deverá ser uma das nações de menor crescimento no continente neste ano, ganhando
apenas da Venezuela e de El Salvador. No ano que vem pode não ser diferente,
com a média das estimativas colhidas pelo Banco Central oscilando em torno de
2,4%.
Tudo considerado, o desempenho da economia brasileira no segundo
trimestre deste ano é um típico ponto fora da curva. A fotografia que o IBGE
revelou nesta manhã é um belo instantâneo, mas suas cores já vão se esmaecendo.
Infelizmente, o retrato do PIB na parede já amarelou.
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