O programa foi lançado no início de julho com objetivo de
atrair 15.460 médicos. Logrou, feita a primeira seleção, suprir meros 10,5%
desta demanda: somente 1.618 profissionais chegaram ao fim do processo,
conforme balanço oficial divulgado
ontem pelo Ministério da Saúde. Trocando em miúdos, o governo só conseguiu
recrutar um de cada dez médicos que pretendia.
A frustração dos municípios foi equivalente. Das 3.511
cidades que demandaram mais médicos ao Ministério da Saúde, apenas 579 (16,5%) receberão
algum. Justamente as localidades mais carentes não despertaram interesse de um
único profissional sequer: 703 não foram selecionados por nenhum candidato, a
maioria na Bahia, no Maranhão, no Piauí e no Amazonas.
A adesão de estrangeiros, outra panaceia dos petistas,
também se mostrou acanhada até o momento. Concluída a primeira etapa do Mais Médicos,
virão do exterior 522 profissionais, sendo que 70% deles são realmente “importados”
e os demais, brasileiros que se formaram e/ou atuam em outros países.
Tudo indica que, no fim das contas, a gestão petista vai
acabar fazendo o que mais queria desde o início da polêmica: importar médicos
cubanos. Na segunda-feira, o governo abre nova fase de inscrições no programa
e, paralelamente, irá acelerar entendimentos com outros países. “Para nós,
ficou claro que o Brasil não tem número suficiente de médicos”, justificou
o ministro Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.
A ilha dos Castro está no topo da lista de desejos dos
petistas. De lá poderão vir até 6 mil médicos. Com uma facilidade a mais para a
gestão Dilma: por se tratar de uma ditadura, o envio dos profissionais é
compulsório e a maior parte da grana paga pelo governo brasileiro pelo trabalho
dos médicos irá mesmo é para o Estado cubano.
Os estrangeiros do Mais Médicos não terão que passar pelo
processo de revalidação de diplomas. Submeter-se-ão apenas a um programa de três
semanas, em que farão cursinho de acolhimento, com aulas de legislação, saúde
indígena e doenças tropicais. Pela cartilha petista, feito isso estarão plenamente
aptos para atender os brasileiros. Será?
O objetivo do Mais Médicos é meritório. São bem-vindas
iniciativas para aumentar a oferta de atendimento aos brasileiros, com a
ampliação de profissionais à disposição. O foco na atenção básica também é
correto – embora o maior programa já criado com este propósito no país, o Saúde
da Família, venha merecendo pouca ênfase da gestão petista.
O Brasil conta com média de 1,8 médico para cada mil
habitantes, considerada baixa. É necessário elevar esta disponibilidade. Mas o
fracasso do programa Mais Médicos deixa claro que, sem que o governo federal invista
em melhorias estruturais e institucionais, não se alcançará o objetivo.
Os dispêndios com Saúde têm recaído crescentemente sobre
estados e municípios, com a União diminuindo sua participação no financiamento
do setor. Também em razão disso, instituições que atendem pelo Sistema Único de
Saúde penam para se equilibrar com repasses muito aquém das despesas que
incorrem em seus procedimentos – desde 1996 a tabela não sofre reajuste linear.
Uma conquista da Constituição de 1988, o SUS está
completando 25 anos. Está mais do que na hora de ser alvo de uma investida
robusta do governo para que se aperfeiçoe e ganhe melhores condições de atender
à população. O malogro do Mais Médicos mostra que o setor de saúde no país
precisa passar por uma delicada cirurgia e não continuar a ser tratado à base
de gazes e esparadrapos.
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