O apagão de ontem atingiu os nove estados nordestinos.
Deixou pelo menos 16 milhões de pessoas sem luz. Segundo a versão oficial, uma queimada
numa fazenda localizada no Piauí desativou duas linhas de transmissão e retirou
quase 9% da carga média do sistema interligado nacional por período que chegou
a quatro horas. Um transtorno continental.
O Brasil tem convivido com uma dura rotina de apagões de
grandes proporções, com quedas de energia acima de 800 megawatts. Mas os
chamados “apaguinhos” são mais comuns ainda: desde o início da atual gestão,
foram pelo menos 150 blecautes, de acordo com levantamento do Centro Brasileiro
de Infraestrutura publicado por O Globo.
A situação do sistema elétrico nacional está piorando a
olhos vistos – pelo menos quando não falta luz para poder enxergar... E isto não
é intriga da oposição; são os relatórios oficiais que comprovam.
De acordo com a Aneel,
desde 2009 o país convive com patamar de queda de energia acima do limite
recomendável. No ano passado, foram 18,65 horas no escuro, nível que só não foi
superior ao registrado em 2009 (18,77 horas). O máximo aceitável em 2012,
conforme os parâmetros da agência de energia, eram 15,87 horas.
As condições do setor elétrico brasileiro passaram a degringolar
na mesma medida em que o país passou a ser comandado por uma técnica que se diz
especialista no assunto. Dilma Rousseff fez carreira na área de energia e
capitaneou, ainda no governo Lula, a formatação do modelo que vigora até
hoje. Por enquanto, sua criação não tem dado muito certo.
O setor elétrico brasileiro está mergulhado em dúvidas e incertezas,
situação agravada pela agressiva intervenção determinada pela presidente há
exato um ano. A redução abrupta das tarifas de luz atrapalhou os planos de
investimentos das concessionárias e jogou uma névoa de insegurança sobre o
setor.
A mesma força que usou para impor suas vontades, o governo federal
não exibe para bem planejar a expansão e o funcionamento do setor elétrico. Trata-se
de um dos nossos segmentos de infraestrutura mais carentes de boa gestão – e sem
energia não há como um país prosperar.
São muitos os exemplos de deficiência de planejamento no
setor elétrico brasileiro: as usinas eólicas instaladas na Bahia e no Rio
Grande do Norte, mas impossibilitadas de produzir porque não têm linhas para distribuir a energia; as hidrelétricas do Madeira que só geram 1/3 do que poderiam porque
também não têm equipamentos adequados; a linha de transmissão (Tucuruí-Macapá-Manaus)
que deveria assegurar o suprimento da região Norte, mas não funciona.
Os estados do Nordeste têm sido uma das vítimas
preferenciais desta incúria. Assoladas pela estiagem, suas barragens estão em níveis
preocupantes. Os reservatórios
da região continuam a secar e têm atualmente apenas 37% de sua capacidade
preenchida – em julho,
estavam 31% abaixo da média de um ano antes.
Com isso, os estados nordestinos tornam-se mais dependentes
da energia gerada pelas caras e poluentes usinas térmicas. Seu suprimento requer
a transferência crescente de carga de outras regiões brasileiras, mas o sistema de
transmissão mostra-se vulnerável – também pela manutenção deficiente – e
insuficiente.
Esta história não tem a menor graça, apesar de a presidente da
República ter sugerido aos brasileiros que gargalhassem
toda vez que ouvissem falar das causas dos apagões no país. Uma coisa é certa:
tanta falta de luz é consequência direta da ausência de regras claras e estáveis
em um setor em que os investimentos demandam décadas de trabalho. E uma evidência
cristalina de que planejar e construir o futuro não são o forte do PT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário