A primeira atitude a tomar deveria ser tratar a situação,
que é severa, com realismo. De nada vai adiantar continuar sustentando que está
tudo sob controle, que a perspectiva é positiva, e que o que pode e deve ser
feito já foi feito. O governo precisa mostrar-se pronto para reagir e evitar
que o pior prevaleça.
Até agora não é isso o que tem se visto. Ontem, a presidente
Dilma Rousseff voltou a vender facilidades, quando o mais adequado seria
admitir fragilidades e começar a atuar mais firmemente. Ela disse
novamente – em entrevistas a rádios paulistas, durante mais uma de suas viagens
com viés tipicamente eleitoral – que a inflação “está sob controle”. Todos sabemos
que não está.
Na realidade, a inflação só não foi totalmente para o espaço
até agora porque o governo está garroteando os preços administrados, como
combustíveis e eletricidade. Na média, eles só subiram 1,3% nos últimos 12
meses, na menor variação desde a criação do regime de metas, em 1999. Em
contrapartida, os preços livres sobem 7,9%. Esta é, pois, a verdadeira inflação
que os brasileiros experimentam no seu dia a dia. E com o dólar mais alto, vai
doer mais ainda.
Já Guido Mantega prefere ignorar os riscos que a disparada
do dólar pode causar na nossa economia como um todo. O ministro opta por ver
apenas os efeitos positivos do dólar mais caro sobre os ganhos das empresas
exportadoras – que até existem, mas, diante da larga maré negativa, tornam-se bem
menos relevantes. Otimismo demais numa hora destas soa como alheamento.
O que está acontecendo, na realidade, é que o Brasil está
pagando a conta de um histórico de imprevidência que o governo petista fez o país
incorrer ao longo dos últimos anos. Como a cigarra da fábula, atravessamos os áureos
tempos da bonança econômica mundial, entre 2004 e 2008, sem investir em criar condições
favoráveis para sobreviver quando o inverno chegasse e a onda virasse.
Quando o mundo todo afundou em crise, a partir de 2009, o
Brasil optou por uma estratégia que, no primeiro momento, até se mostrou
correta: incentivar o consumo. Mas, uma vez superadas as dificuldades iniciais,
o governo continuou insistindo na mesma receita quando a maré já era outra e
nosso problema era de excesso e não de falta de demanda.
Chegamos a 2013, depois de dois anos de desempenho medíocre
da nossa economia sob o comando de Dilma, com um cenário turvo pela frente e
sem apresentar credenciais para poder surfar na onda quando o crescimento
mundial embicar, novamente, para cima, o que pode ocorrer assim que a economia
dos EUA firmar sua recuperação. As perspectivas que o país hoje oferece são
desanimadoras.
O que poderia ter sido feito e não foi? Quando o país estava
na crista da onda, o governo brasileiro deveria ter criado condições para que o
investimento privado florescesse, mas investiu suas melhores energias no agigantamento
da presença do Estado na vida de todos. Sufocou, com isso, boa parte do “espírito
animal” dos empreendedores, dos grandes aos pequenos.
Descuidou, também, do dinheiro que recebe dos contribuintes,
torrando-o impunemente. Jamais se preocupou em domar a escalada dos gastos públicos
improdutivos. Recusou-se a manifestar compromisso mais sério com a
responsabilidade fiscal e, talvez o mais grave de tudo, tratou a inflação como
se fosse intriga de críticos e da oposição, esquecendo que quem mais sofre com a
escalada dos preços são os brasileiros pobres.
É por este conjunto da obra que o governo Dilma pena agora
para enfrentar uma confluência de adversidades que, em boa medida, ele mesmo
semeou. O que o país precisa para reagir, a presidente não tem para entregar: regras
claras e transparentes para investimentos, compromisso firme com a boa gestão,
seriedade no trato da coisa pública. A partir de agora, esta conta amarga vai ter
de ser paga em verdinhas. E com um dólar cada vez mais caro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário