Dilma Rousseff disse ontem que, a partir de agora, seu negócio é fazer política. Segundo a presidente, ela já teria se concentrado demais em “cuidar da gestão” do país. Só pode ser piada. Se está mesmo falando sério e considera que fez tudo o que era necessário fazer para garantir um bom governo, estamos fritos.
A presidente dedicou os últimos dias a gestos de aproximação
e a manifestações de apreço e humildade em relação a congressistas. Puro
instinto de sobrevivência. Os relatos de presentes dão conta de que Dilma mais
ouviu do que falou. Mas, pelo que se soube que ela disse, a petista continuou a
manifestar alheamento da realidade, baixíssima capacidade de compreensão e menor
ainda de ação.
Se Dilma se dá por satisfeita com as iniciativas que tomou e
com os resultados que produziu nestes 31 meses de gestão, uma conclusão se impõe:
ela não tem mínimas condições de continuar sendo a presidente do Brasil. O país
não merece um governante tão medíocre.
O mix produzido pela gestão Dilma é indigesto: um país que
cresce pouco; que tem uma inflação que só não é mais alta porque muitas tarifas
estão praticamente congeladas; em que boa parte das promessas oficiais nunca
saem do papel; e onde as decisões de governo são tomadas ao sabor do marketing
e não costumam durar mais do que o tempo de leitura de um jornal.
Na pajelança com senadores do PT ontem, a presidente afirmou
que o PIB brasileiro vai crescer neste ano “duas ou três vezes mais” que em
2012. Crescer mais do que o quase nada do ano passado (0,9%) é fácil. O difícil
é crescer, pelo menos, no mesmo ritmo de países como o nosso. Isso Dilma não
consegue.
Nos seus dois primeiros anos de governo, a média de
crescimento do PIB brasileiro foi de apenas 1,8%, enquanto a América Latina
cresceu quase três vezes mais no período: 4,6%. Neste ano, vamos ganhar apenas
da Venezuela e de El Salvador no continente. Pelo que afirmou ontem, isso é o
máximo aonde Dilma é capaz de nos levar.
A presidente também afirmou, passados dois anos e meio do
governo dela e dez anos e meio de gestão petista, que agora “é hora de executar
programas lançados”. Se só agora a administração vai cuidar do que interessa,
ou seja, produzir resultados para a população, o que, diabos, foi feito até hoje?
Apenas o mesmo que Dilma diz que fará doravante: política.
O rol de promessas não cumpridas pelos petistas é imenso: melhorias
na saúde e na educação que não acontecem, empreendimentos de infraestrutura
inexistentes, desperdícios de recursos públicos em inabalável ascensão. Tornamo-nos
um país em que as obras nunca terminam, em que tudo está em construção e já é
ruína.
Se a “gestão” a que Dilma fala que se dedicou fosse para
valer, estaríamos assistindo neste momento, por exemplo, a uma arrancada sem
precedentes em empreendimentos de logística e infraestrutura tocados pela
iniciativa privada.
Mas o programa de privatizações de rodovias e ferrovias, lançado
há um ano, não produziu um único leilão até hoje. “O propósito [era] chegar em
junho com todas as licitações já realizadas. [Mas] Da modelagem inicial
praticamente nada vingou”, escreve Claudia Safatle na edição de hoje do Valor Econômico.
Quando 2013 começou, a presidente e seus auxiliares diziam
que este finalmente seria o ano dos investimentos no país. Mas o que aconteceu?
Até junho, os dispêndios desta natureza simplesmente caíram em relação ao
primeiro semestre do ano passado: já descontada a inflação, a queda foi de 5%, para
R$ 33,5 bilhões, também segundo o Valor.
As respostas que o governo da presidente produziu aos
protestos de junho também foram todas parar no lixo da história, com a vida efêmera
que propostas embebidas no éter da propaganda oficial tendem a ter.
Se Dilma Rousseff considera que fez tudo o que poderia fazer
pelo Brasil, é lícito concluir que sua gestão não existiu. Nenhuma novidade
nisso. Afinal, há apenas alguns dias a presidente afirmou, com todas as letras,
que Lula “nunca saiu” do cargo que ocupou por oito anos. E ela nunca entrou.
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