Quando o recesso branco começou, na terceira semana de
julho, os articuladores do governo divulgaram que a presidente aproveitaria a
parada para pôr ordem na casa e impor um freio de arrumação na administração. Nada
feito. Os desacertos continuaram a se repetir na mesma cadência de sempre.
O governo manteve sua rotina de decidir e depois desistir,
como no caso do programa Mais Médicos, da portaria sobre procedimentos para
mudança de sexo no SUS, da suspensão das atividades da Marinha. A tônica é a
mesma: desfaz-se num dia o que fora feito no anterior. Impera a desorientação.
Não surpreende que governo tão mal ajambrado tenha apoio tão
periclitante tanto na sociedade como no Parlamento. Há estatísticas para todos
os gostos e todas levam à mesma conclusão: o prestígio da presidente Dilma é
cadente, não apenas entre deputados e senadores, mas, principalmente, entre a
população em geral.
A petista dispõe, segundo a Folha de S.Paulo,
da base parlamentar mais indisciplinada desde a redemocratização do país. De acordo
com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, no primeiro semestre os
partidos aliados acompanharam a orientação do Planalto em somente 69% das
votações. Nem Lula em seus piores momentos foi tão mal.
O número de parlamentares fiéis ao governo também é
declinante. Segundo O Estado de S.Paulo, apenas um quinto da Câmara vota hoje sistematicamente
seguindo as ordens do Executivo. O bloco governista já teve 17 partidos e hoje
conta com apenas oito, já incluindo na conta o PT. Ou seja, nove legendas já
pularam fora do barco.
Os próprios petistas consideram que os aliados certos atualmente
seriam apenas 25 no Senado e 120 na Câmara, como mostra hoje o Valor Econômico. Nada bom para um
governo eleito por uma imensa coligação formada por dez partidos e que começou
o mandato apoiado por 62 dos 81 senadores e 400 dos 513 deputados.
Além de desgastada junto aos brasileiros em geral e à classe
política em particular, Dilma sofre erosão em outras frentes. Os empresários
também já se encheram da presidente. Percebem estar diante de um governo que
decide mal; que brinca com coisa séria, como a inflação; que não garante
confiança e segurança para quem quer construir um futuro mais próspero.
E o que faz a presidente para tentar fugir do beco sem saída
em que se meteu? Apela para as mais abjetas práticas da política, como o toma-lá-dá-cá
da liberação de emendas parlamentares, sempre privilegiando o PT, ou corre
para o colo de seu padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Possivelmente, atitudes desta natureza não vão ajudar Dilma a
melhorar sua avaliação nem a descascar o imenso abacaxi que a espera na
retomada das atividades do Congresso. Na pauta parlamentar, estão a derrubada
do veto presidencial ao fim da multa rescisória de 10% do FGTS em caso de
demissões sem justa causa; a aprovação do Orçamento impositivo; a definição
sobre a partilha dos royalties; a famigerada medida provisória dos médicos – e por
aí vai.
Em suas manifestações públicas, a presidente da República continua
agindo como se estivesse tudo às mil maravilhas. Se está, não parece. Dilma Rousseff
tem demonstrado que só consegue produzir respostas velhas para um Brasil que
quer se renovar. Agosto será um bom teste para saber até onde vai o alheamento
da presidente. É bem provável que o mês lhe renda muitos desgostos.
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